São Paulo, quarta-feira, 07 de setembro de 2011

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Tráfico ataca ocupação do Exército no Rio

Grupo invade à noite área do complexo do Alemão; garota de 15 anos que deixava escola morre com tiro, segundo família

Traficantes dispararam em várias direções; desde domingo, área vive tensão entre militares e moradores

Carlos Wrede/Agência O Dia
Moradora tenta se esconder de tiros disparados no morro do Adeus, no complexo do Alemão, na zona norte do Rio

DO RIO

Um grupo de traficantes, estimado em cerca de 50 pessoas, invadiu ontem à noite o complexo do Alemão (zona norte do Rio), ocupado por tropas do Exército desde novembro. Uma jovem de 15 anos morreu, segundo a família, com um tiro na cabeça.
Conforme a Secretaria de Segurança, o grupo, em dez carros, chegou por volta das 19 horas e era chefiado pelo traficante conhecido como 2D.
Fugitivo da Mangueira, ocupada em junho para a implantação de uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), ele havia se refugiado na Vila Kennedy (zona oeste), com a missão de manter o domínio do Comando Vermelho na área.
Um reforço de cerca de cem homens do Exército foi mandado para o complexo. Policiais do Bope, equipados com um "caveirão" -o carro blindado da corporação- também se deslocaram para a área. Enquanto soldados continham o trânsito, PMs se preparavam para entrar no complexo.
Ana Lúcia da Silva, 15, saía de uma escola na favela Nova Brasília quando foi atingida na cabeça. De acordo com a tia da adolescente, Carla Cristina da Silva, ela foi levada para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Penha(zona norte) e teve morte cerebral às 20h15. Procurada, a unidade não quis dar informações.
Um homem de 47 anos, ferido na cabeça por estilhaços de granada, foi levado para o hospital Getúlio Vargas, ali nas proximidades.

POSTES DE LUZ
Os traficantes chegaram ao complexo por um dos acessos da Nova Brasília, na estrada do Itararé. O grupo atirava em várias direções. Um dos alvos eram as lâmpadas nos postes. A região ficou às escuras. Apavorados, moradores que chegavam do trabalho se refugiaram em bares e lojas, que cerraram as portas.
"É muita bomba, fogos, tiros", contou o presidente da Associação de Moradores da Grota, Wagner Bororó, que ouvia tudo escondido em um bar.
Outra moradora, que não quis se identificar, contou que da janela de casa via balas cortando o céu. "Há muito tempo não ouço tantos tiros."

DOMINGO
Desde domingo o Alemão vive momentos conturbados. Naquele dia à tarde, moradores e militares entraram em um confronto depois de uma discussão que começou por causa do volume de um aparelho de TV. A briga terminou com 12 pessoas feridas -entre elas, dois soldados. Na noite de anteontem, houve novo conflito. Moradores acusaram os militares de terem apagado as luzes da rua antes de começar a disparar contra a população. O Exército nega e diz que houve reação dos moradores a uma operação na qual oito mototaxistas foram presos.
(DIANA BRITO, GUSTAVO ALVES, MARCO ANTÔNIO MARTINS E PAULA BIANCHI)

Moradores divulgam imagens de tiros
folha.com/no971490



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