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SEGURANÇA
PSTU e militar linha-dura defendem o voto no "não"; políticos petistas e herdeiro de ACM integram bloco do "sim"
Referendo une radicais de esquerda e direita
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
O referendo sobre a proibição
da venda de armas de fogo e munição colocou lado a lado inimigos históricos. Quem diria, por
exemplo, que o PSTU (Partido
Socialista dos Trabalhadores Unificado), de extrema-esquerda,
concordaria um dia com o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), capitão reformado que já defendeu em vários discursos a ditadura militar brasileira? Pois ambos defendem, por razões absolutamente distintas, o voto "não".
Do lado do "sim", também há
uma união inusitada, com petistas e comunistas ao lado de tucanos e do deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA).
No caso do PSTU, o argumento
principal é que o desarmamento
manteria na mão do Estado o monopólio da violência e da repressão, o que tiraria o direito de trabalhadores e movimentos sociais
se defenderem de uma "ditadura
de direita", das milícias armadas
de fazendeiros ou da "burguesia".
"Votamos "não" por motivos
opostos à direita, que é financiada
pela indústria bélica e esteve ligada à ditadura militar. Achamos
que os movimentos sociais, como
o MST ou os trabalhadores, têm o
direito de se defender das milícias
armadas dos latifundiários. Também não se pode descartar a tentativa de golpe da direita apoiada
pelos Estados Unidos, como
ocorreu recentemente em outros
países da América Latina", afirma
Thiago Hastenreiter, dirigente
nacional da juventude do PSTU.
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) também é citado por Bolsonaro para
defender o "não", mas em contexto radicalmente oposto: "A gente
não pode esquecer a amizade estreita de Hugo Chávez [presidente da Venezuela], Lula e [João Pedro] Stedile [coordenador do
MST]. A partir do instante em que
Chávez comprou 100 mil fuzis, a
preocupação é esse armamento
"escorregar" para o MST".
Há também movimentos antiamericanos e que lutam contra o
estrangeirismo na língua portuguesa, como o MV-Brasil, que citam até teses mundiais conspiratórias. "Há um grande movimento internacional de 250 famílias de
sociedades fechadas que não respeitam bandeira nenhuma. O objetivo delas é desarmar a população e assumir o controle dos países. Querem fazer isso no Brasil.
Eles estão tolerando o armamento norte-americano por enquanto, mas logo agirão em outros países também. Há documentos que
comprovam essa movimentação", diz Wagner Vasconcelos, do
conselho do MV-Brasil.
Amigo dos inimigos
Do lado do "sim", a frente parlamentar também reúne inimigos
ferrenhos no campo ideológico.
Lá estão os petistas Luiz Eduardo
Greenhalgh, deputado federal,
Aloizio Mercadante, senador, e a
deputada federal Jandira Feghali
(PC do B-RJ) com os deputados
federais ACM Neto (PFL) e Gustavo Fruet (PSDB-PR) e o senador
Arthur Virgílio (PSDB-AM).
"O diálogo com parlamentares
de outras correntes tem sido muito tranqüilo, já que a razão principal é a preocupação crescente
com a morte de pessoas por armas de fogo. Mesmo a relação
com os parlamentares que votam
"não" tem sido muito respeitosa,
com o debate com argumentos de
cada lado", diz Jandira Feghali.
ACM Neto diz que o bom entendimento é anterior ao referendo. "Quando o assunto foi analisado na Comissão de Constituição e Justiça, fizemos uma frente
multipartidária para aprovar o
Estatuto do Desarmamento."
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