São Paulo, sexta-feira, 07 de outubro de 2005

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SEGURANÇA

PSTU e militar linha-dura defendem o voto no "não"; políticos petistas e herdeiro de ACM integram bloco do "sim"

Referendo une radicais de esquerda e direita

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

O referendo sobre a proibição da venda de armas de fogo e munição colocou lado a lado inimigos históricos. Quem diria, por exemplo, que o PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado), de extrema-esquerda, concordaria um dia com o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), capitão reformado que já defendeu em vários discursos a ditadura militar brasileira? Pois ambos defendem, por razões absolutamente distintas, o voto "não".
Do lado do "sim", também há uma união inusitada, com petistas e comunistas ao lado de tucanos e do deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA).
No caso do PSTU, o argumento principal é que o desarmamento manteria na mão do Estado o monopólio da violência e da repressão, o que tiraria o direito de trabalhadores e movimentos sociais se defenderem de uma "ditadura de direita", das milícias armadas de fazendeiros ou da "burguesia".
"Votamos "não" por motivos opostos à direita, que é financiada pela indústria bélica e esteve ligada à ditadura militar. Achamos que os movimentos sociais, como o MST ou os trabalhadores, têm o direito de se defender das milícias armadas dos latifundiários. Também não se pode descartar a tentativa de golpe da direita apoiada pelos Estados Unidos, como ocorreu recentemente em outros países da América Latina", afirma Thiago Hastenreiter, dirigente nacional da juventude do PSTU.
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) também é citado por Bolsonaro para defender o "não", mas em contexto radicalmente oposto: "A gente não pode esquecer a amizade estreita de Hugo Chávez [presidente da Venezuela], Lula e [João Pedro] Stedile [coordenador do MST]. A partir do instante em que Chávez comprou 100 mil fuzis, a preocupação é esse armamento "escorregar" para o MST".
Há também movimentos antiamericanos e que lutam contra o estrangeirismo na língua portuguesa, como o MV-Brasil, que citam até teses mundiais conspiratórias. "Há um grande movimento internacional de 250 famílias de sociedades fechadas que não respeitam bandeira nenhuma. O objetivo delas é desarmar a população e assumir o controle dos países. Querem fazer isso no Brasil. Eles estão tolerando o armamento norte-americano por enquanto, mas logo agirão em outros países também. Há documentos que comprovam essa movimentação", diz Wagner Vasconcelos, do conselho do MV-Brasil.

Amigo dos inimigos
Do lado do "sim", a frente parlamentar também reúne inimigos ferrenhos no campo ideológico. Lá estão os petistas Luiz Eduardo Greenhalgh, deputado federal, Aloizio Mercadante, senador, e a deputada federal Jandira Feghali (PC do B-RJ) com os deputados federais ACM Neto (PFL) e Gustavo Fruet (PSDB-PR) e o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM).
"O diálogo com parlamentares de outras correntes tem sido muito tranqüilo, já que a razão principal é a preocupação crescente com a morte de pessoas por armas de fogo. Mesmo a relação com os parlamentares que votam "não" tem sido muito respeitosa, com o debate com argumentos de cada lado", diz Jandira Feghali.
ACM Neto diz que o bom entendimento é anterior ao referendo. "Quando o assunto foi analisado na Comissão de Constituição e Justiça, fizemos uma frente multipartidária para aprovar o Estatuto do Desarmamento."


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