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27 ANOS DE BATIDÃO
Segundo ele, só educação resolve situação
Playboyzada glamoriza "proibidão" e indiciar MCs é inútil, diz DJ Marlboro
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Sob o codinome DJ Marlboro,
Fernando Luís Mattos da Matta,
42, é o nome mais importante do
funk carioca. Há 27 anos comandando bailes, ele se recusa a tocar
os "proibidões", mas diz que o indiciamento dos MCs é inútil.
"O que resolve é educação", diz
Marlboro. Para ele, a "playboyzada" glamoriza o "proibidão".
No início desta semana, a polícia indiciou 13 MCs (mestres de
cerimônia) que se apresentam em
bailes funk em comunidades pobres do Rio de Janeiro, sob a acusação de fazer apologia ao tráfico.
De acordo com a polícia, todos
cantam músicas que exaltam traficantes, o consumo de drogas,
facções ou atos criminosos. A investigação durou quase um ano.
Nesse período, os policiais conseguiram reunir material em vídeo, fotos e áudio para indiciar os
cantores. Os funkeiros usavam sites para divulgar as suas músicas,
conhecidas no Rio como ""proibidões". Assim como DJ Marlboro,
as rádios se recusam a veiculá-las.
Folha - Você concorda com o indiciamento dos autores dos "proibidões"?
DJ Marlboro - Sou radicalmente
contra os "proibidões". Eles não
somam nada para o menino da
favela, para a comunidade, para o
cidadão comum ou para o funk.
Mas, se o que eles cantam é reflexo do que vivem no dia-a-dia, calar sua boca não vai mudar a realidade, nem vai impedir que sejamos vítimas do que eles cantam.
O indiciamento não tem utilidade
nenhuma.
Folha - E o que deveria ser feito?
Marlboro - O MC que faz isso deve ser advertido, orientado, ver
que existem novos horizontes,
que ele pode falar da realidade em
que vive buscando alternativas
para ela, como outros MCs fazem.
Mas como eu vou cobrar isso se
ele não teve estudo decente, não
teve acesso a tudo o que a classe
média tem? Punição ideal para ele
seria fazer música nos orfanatos,
ser orientado por psicólogos e escritores, direcionar o talento dele
para coisas positivas. O que resolve é educação.
Folha - Esses MCs fazem apologia
ao crime?
Marlboro - Acho que fazem muito mais apologia as pessoas de
classe média que ficam de dedinho para o alto cantando "proibidão", glamorizando aquilo, comprando CDs piratas. E eu vejo demais isso nos bailes. A playboyzada não sabe nem do que está falando, não sabe como aquela realidade é cruel para as pessoas que
vivem nas comunidades.
O MC é vitima do que está cantando. Quanto mais o playboy
glamoriza, mas esse glamour vai
ganhando força na comunidade, e
o garoto passa a querer ser bandido, vai ser o carrasco dele [playboy]. É uma bola de neve.
Folha - O que você tem feito para
mudar o caminho desses MCs?
Marlboro - O que eu gastei de saliva... Venho falando há anos e já
consegui muitas coisas. Botei
muita gente para cantar outras
coisas, e os caras decolaram.
Eu fiz os dois volumes de "Proibidão Liberado" para que esses
MCs contassem suas histórias de
forma positiva, sem facções, sem
apologias.
A maioria está indiciada agora.
Mas fechar a porta para eles não
vai adiantar. O funk é a única
oportunidade que eles têm de sair
daquela vida. Nosso papel como
sociedade é orientar.
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