São Paulo, domingo, 07 de outubro de 2007

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Em apenas um ano, traficante encomendou 150 mortes

DA REPORTAGEM LOCAL

A modernidade na administração aparece na contabilidade Juan Carlos Ramírez Abadía ao lado da mais pura barbárie: o relato das mortes ordenadas por ele. Entre janeiro de 2004 e março de 2005, são listadas num arquivo 150 "charladas".
O termo é o particípio passado de "charlar", que quer dizer jogar conversa fora e era sinônimo de morte no jargão da quadrilha do traficante.
A contabilidade macabra confirma uma das histórias mais assustadoras sobre Abadía: a de que mandou matar 35 pessoas de uma mesma família.
As vítimas eram parentes de Víctor Patiño Fomeque, inimigo de Abadía que decidiu colaborar com a Justiça dos Estados Unidos e contar o que sabia sobre o cartel do Vale do Norte.
A mãe de Fomeque, que hoje vive sob proteção nos EUA, já havia relatado os crimes -ela viu corpos dos filhos esquartejados num rio próximo à casa em que vivia na Colômbia.
Agora, os mortes da família Fomeque aparecem contabilizados numa planilha que relaciona os assassinatos encomendados por Abadía entre 11 de fevereiro de 2004 e 30 de março de 2006: 82, segundo o computador. Elas custaram o equivalente a R$ 2,8 bilhões.
Abadía não economizava quando o assunto era vingança. Na planilha, a morte de um meio irmão de Víctor, um traficante de grande porte na Colômbia, custou US$ 338.778.
O detalhismo de Abadía no trato com o dinheiro revelou que ele corrompia funcionários públicos em todas as áreas que tinha interesse: do Exército à Justiça, da polícia a jornalistas.
Para saber se seus telefones estavam grampeados, ele pagava cerca de R$ 10 mil por mês a um engenheiro da companhia telefônica. Para "parar notícia de jornal e recuperar vídeo", ele pagou US$ 7.000 e US$ 10.000, respectivamente. O traficante tinha gasto mensal fixo com suborno de R$ 7,3 milhões, de acordo com seu computador.
Mesmo com o dinheiro entrando fácil, Abadía tinha a avareza de um Tio Patinhas. Em 17 de abril de 2005, um certo El Doctor entregou US$ 9,85 milhões em notas, mas US$ 400 foram devolvidos porque estavam molhados. El Doctor teve de pagar uma multa por não zelar pelas notas. Abadía tinha cerca de US$ 90 milhões enterrados em diferentes endereços Calí, descobertos em fevereiro graças à Polícia Federal. (MCC)


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