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Em apenas um ano, traficante encomendou 150 mortes
DA REPORTAGEM LOCAL
A modernidade na administração aparece na contabilidade Juan Carlos Ramírez Abadía
ao lado da mais pura barbárie: o
relato das mortes ordenadas
por ele. Entre janeiro de 2004 e
março de 2005, são listadas
num arquivo 150 "charladas".
O termo é o particípio passado de "charlar", que quer dizer
jogar conversa fora e era sinônimo de morte no jargão da
quadrilha do traficante.
A contabilidade macabra
confirma uma das histórias
mais assustadoras sobre Abadía: a de que mandou matar 35
pessoas de uma mesma família.
As vítimas eram parentes de
Víctor Patiño Fomeque, inimigo de Abadía que decidiu colaborar com a Justiça dos Estados Unidos e contar o que sabia sobre o cartel do Vale do Norte.
A mãe de Fomeque, que hoje
vive sob proteção nos EUA, já
havia relatado os crimes -ela
viu corpos dos filhos esquartejados num rio próximo à casa
em que vivia na Colômbia.
Agora, os mortes da família
Fomeque aparecem contabilizados numa planilha que relaciona os assassinatos encomendados por Abadía entre 11 de fevereiro de 2004 e 30 de
março de 2006: 82, segundo o
computador. Elas custaram o
equivalente a R$ 2,8 bilhões.
Abadía não economizava
quando o assunto era vingança.
Na planilha, a morte de um
meio irmão de Víctor, um traficante de grande porte na Colômbia, custou US$ 338.778.
O detalhismo de Abadía no
trato com o dinheiro revelou
que ele corrompia funcionários
públicos em todas as áreas que
tinha interesse: do Exército à
Justiça, da polícia a jornalistas.
Para saber se seus telefones
estavam grampeados, ele pagava cerca de R$ 10 mil por mês a
um engenheiro da companhia
telefônica. Para "parar notícia
de jornal e recuperar vídeo", ele
pagou US$ 7.000 e US$ 10.000,
respectivamente. O traficante
tinha gasto mensal fixo com suborno de R$ 7,3 milhões, de
acordo com seu computador.
Mesmo com o dinheiro entrando fácil, Abadía tinha a avareza de um Tio Patinhas. Em 17
de abril de 2005, um certo El
Doctor entregou US$ 9,85 milhões em notas, mas US$ 400
foram devolvidos porque estavam molhados. El Doctor teve
de pagar uma multa por não zelar pelas notas. Abadía tinha
cerca de US$ 90 milhões enterrados em diferentes endereços
Calí, descobertos em fevereiro
graças à Polícia Federal.
(MCC)
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