São Paulo, domingo, 07 de outubro de 2007

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Juan Abadía faturou até R$ 130 milhões por mês

Dados de abril de 2003 mostram que, em 17 dias, ele recebeu US$ 37,7 milhões

Computador encontrado tinha gastos, estoques e listas com detalhes como "Projeção para o primeiro semestre de 2008"

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ano de 2003 foi excepcional para o megatraficante Juan Carlos Ramírez Abadía. Uma planilha Excel com a data de 30 de abril desse ano registra que o colombiano recebeu US$ 37,7 milhões em 17 dias. Uma simples regra de três mostra que, nessa época, ele faturava US$ 70 milhões por mês -o equivalente a R$ 130 milhões. Se o fluxo fosse constante, ele faturaria R$ 1,5 bilhão por ano -o equivalente ao faturamento da Gradiente em 2005.
Outra planilha revela que, entre 5 de janeiro e 11 de novembro de 2004, o traficante enviou 122,7 toneladas para os Estados Unidos e a Europa. O volume corresponde a praticamente um quarto de toda cocaína produzida na Colômbia naquele ano -500 toneladas segundo estimativa das agências antidrogas.
O volume de saída de dinheiro também era elevado. Só o pagamento mensal de propinas na Colômbia consumia R$ 7,6 milhões, como está anotado em outra planilha. Há também dados das propinas eventuais: entre 12 e 24 de dezembro de 2004, Abadía comprou presentes para funcionários públicos e policiais no valor de US$ 2,8 milhões.
Todos esses dados e uma contabilidade tão detalhada que especifica o gasto de uma de suas ex-mulheres com troca de óleo do carro foram encontrados em um computador de Abadía apreendido na Colômbia pela polícia.
O conteúdo do computador, revelado pela jornalista Gloria Congote na revista "Semana" da Colômbia, é tão bombástico que a polícia mudou a posição hierárquica dele no narcotráfico. Após o computador, Abadía já não é um dos maiores traficantes colombianos, como se dizia genericamente. É o maior. À frente até de Diego León Montoya, o Don Diego, que era considerado o número 1.
Os especialistas em narcotráfico já sabiam que Abadía era bilionário. O DEA (polícia antinarcóticos dos EUA) estimava que sua fortuna era de US$ 1,8 bilhão (R$ 3,5 bilhões). A análise inicial do computador indica que a estimativa pode ser conversadora.

Cocaína Corp.
Abadía controlava todos os detalhes do seu negócio como se fosse o presidente de uma grande corporação. No computador apreendido, há arquivos que revelam um impressionante grau de profissionalismo na administração só pelos nomes que recebiam: "entradas 2002", "fluxo da companhia no 2º semestre 2006" e "projeções no 1º semestre 2008".
A produção e os estoques de cocaína são acompanhados com precisão. Em 15 de maio de 2003, por exemplo, um informe detalha: "Em Bolívar [cidade colombiana] temos em estoque 6.126 unidades" -unidade significava quilo, segundo apurou a polícia.
Os donos das cargas enviadas eram detalhados. Numa remessa de dez toneladas, seis eram de Abadía e o restante pertencia a cinco pessoas. Um paramilitar, Ramón Isaza, é citado como dono de meros 50 quilos.


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