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Donos de casas tiveram receio com reportagem
DA REVISTA DA FOLHA
Com uma lista de 20 endereços em mãos, recolhidos em
rondas de carro pelos bairros
de Pinheiros, Moema, Vila Nova Conceição, Vila Beatriz, Sumaré, Jardim Europa, Paraíso e
Vila Mariana, comecei a fazer
as ligações. Na primeira chamada ouvi um "sim" -que significava "sim, topo dar entrevista sobre minha casa sem
muro e ser fotografado". "Vai
ser fácil", pensei. Estava errado: a segunda ligação abriu as
portas para uma série de nãos.
As negativas significavam
"estou com receio". Teve gente
que topou participar da reportagem, falar dos muros, discursou sobre medo e falta de civilidade. Mas, no fim, o dono da casa exposta não quis se expor.
Senhoras e senhores de idade
proibidos pelos filhos de falar,
foram quatro. Tudo indica que
os mais jovens têm mais medo
do que os mais velhos. Os donos
de casas sem muros encontrados tinham, em quase todos os
casos, mais de 60 anos. Um deles me explicou, informalmente, o tal fenômeno: "Nós, velhos, não nos acostumamos com muros. Os jovens sim; e
desde crianças".
Foi exatamente a mulher de
aparência mais jovem, por volta dos 40, que abriu três centímetros da porta de casa para
me atender. Ela disse "Não, não
quero". "Não quero o quê?",
pensei, eu não havia dito nada.
A única possibilidade de diálogo, naquele momento em que
representava ameaça, era dar
meus telefones e pedir o nome
dela. Joana, no caso. Liguei e
não havia nenhuma Joana.
Outro casal me perguntou ao
telefone. "Oi, você é assaltante?". Na posição de agressor involuntário, passei todos os
meus telefones e credenciais.
Eles telefonaram para o jornal
e me receberam na porta da casa. Ofereceram refrigerante e
água, mas, em nenhum momento, me convidaram a entrar.
(GF)
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