São Paulo, domingo, 07 de outubro de 2007

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Donos de casas tiveram receio com reportagem

DA REVISTA DA FOLHA

Com uma lista de 20 endereços em mãos, recolhidos em rondas de carro pelos bairros de Pinheiros, Moema, Vila Nova Conceição, Vila Beatriz, Sumaré, Jardim Europa, Paraíso e Vila Mariana, comecei a fazer as ligações. Na primeira chamada ouvi um "sim" -que significava "sim, topo dar entrevista sobre minha casa sem muro e ser fotografado". "Vai ser fácil", pensei. Estava errado: a segunda ligação abriu as portas para uma série de nãos.
As negativas significavam "estou com receio". Teve gente que topou participar da reportagem, falar dos muros, discursou sobre medo e falta de civilidade. Mas, no fim, o dono da casa exposta não quis se expor.
Senhoras e senhores de idade proibidos pelos filhos de falar, foram quatro. Tudo indica que os mais jovens têm mais medo do que os mais velhos. Os donos de casas sem muros encontrados tinham, em quase todos os casos, mais de 60 anos. Um deles me explicou, informalmente, o tal fenômeno: "Nós, velhos, não nos acostumamos com muros. Os jovens sim; e desde crianças".
Foi exatamente a mulher de aparência mais jovem, por volta dos 40, que abriu três centímetros da porta de casa para me atender. Ela disse "Não, não quero". "Não quero o quê?", pensei, eu não havia dito nada. A única possibilidade de diálogo, naquele momento em que representava ameaça, era dar meus telefones e pedir o nome dela. Joana, no caso. Liguei e não havia nenhuma Joana.
Outro casal me perguntou ao telefone. "Oi, você é assaltante?". Na posição de agressor involuntário, passei todos os meus telefones e credenciais. Eles telefonaram para o jornal e me receberam na porta da casa. Ofereceram refrigerante e água, mas, em nenhum momento, me convidaram a entrar. (GF)


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