São Paulo, terça-feira, 07 de outubro de 2008

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LEORDINA MOREIRA DA SILVA (1929-2008)

O livro de receitas da mãe Dolores

ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

Ai dos que se aproximassem do tanque. Quem mandava naquela área era Dolores, e bastava um intruso botar a mão onde não havia sido chamado para ela virar uma "fera", como lembra Aysha, a neta. Era ela quem lavava -"com gosto"- as roupas da casa. E só ela.
Natural de Leme, a 188 km de São Paulo, Dolores -cujo nome de registro é Leordina Moreira da Silva- veio à capital aos nove, acompanhada dos irmãos. Aqui, casou-se e teve Marcos, o único filho.
Quando o garoto completou dois anos, Manoel, o marido, morreu. Resultado: criou o menino sozinho com a ajuda financeira dos irmãos e dos vizinhos, numa casa de dois quartos, sala, cozinha e banheiro em Santo Amaro, na zona sul de São Paulo. De renda fixa, tinha só a pensão deixada pelo marido.
O filho cresceu, estudou teologia no Mackenzie, tornou-se pastor evangélico, casou-se, teve três filhas e foi morar com a mãe. O livro de receitas que certa vez deu a ela, não só incrementou novidades à cozinha da casa como foi responsável pela mudança no nome dela.
"Ninguém a conhecia como Leordina", conta a neta. O apelido foi emprestado do livro, cujo título "era algo como "O Livro de Receitas da Mamãe Dolores'".
Com o tempo (e reformas), a casa cresceu, ganhando dois novos quartos. Dolores cuidou do filho, das netas e das roupas até sexta, quando morreu de infarto fulminante, aos 79, em São Paulo.

obituario@folhasp.com.br


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