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LEORDINA MOREIRA DA SILVA (1929-2008)
O livro de receitas da mãe Dolores
ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL
Ai dos que se aproximassem do tanque. Quem mandava naquela área era Dolores, e bastava um intruso botar a mão onde não havia sido chamado para ela virar
uma "fera", como lembra
Aysha, a neta. Era ela quem
lavava -"com gosto"- as
roupas da casa. E só ela.
Natural de Leme, a 188 km
de São Paulo, Dolores -cujo
nome de registro é Leordina
Moreira da Silva- veio à capital aos nove, acompanhada
dos irmãos. Aqui, casou-se e
teve Marcos, o único filho.
Quando o garoto completou dois anos, Manoel, o marido, morreu. Resultado:
criou o menino sozinho com
a ajuda financeira dos irmãos
e dos vizinhos, numa casa de
dois quartos, sala, cozinha e
banheiro em Santo Amaro,
na zona sul de São Paulo. De
renda fixa, tinha só a pensão
deixada pelo marido.
O filho cresceu, estudou
teologia no Mackenzie, tornou-se pastor evangélico, casou-se, teve três filhas e foi
morar com a mãe. O livro de
receitas que certa vez deu a
ela, não só incrementou novidades à cozinha da casa como foi responsável pela mudança no nome dela.
"Ninguém a conhecia como Leordina", conta a neta.
O apelido foi emprestado do
livro, cujo título "era algo como "O Livro de Receitas da
Mamãe Dolores'".
Com o tempo (e reformas),
a casa cresceu, ganhando
dois novos quartos. Dolores
cuidou do filho, das netas e
das roupas até sexta, quando
morreu de infarto fulminante, aos 79, em São Paulo.
obituario@folhasp.com.br
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