São Paulo, terça-feira, 07 de outubro de 2008

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Faculdade usa regra do MEC e "rouba" turma de concorrente

Desde 2007, aluno não tem de pagar 2 matrículas ao se transferir, o que facilitou processo

Atraídos por mensalidade menor, 35 alunos deixaram Uninove e foram para a Unib; outras instituições oferecem descontos a aluno

JOANA CUNHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma mudança do Ministério da Educação na regra de transferência de alunos acirrou a batalha entre universidades particulares por novas matrículas. Atraídas por descontos expressivos e mensalidades mais baratas, turmas inteiras chegam a mudar de universidade. Em reação, instituições que perderam alunos estão revendo as suas políticas de preços na tentativa de evitar mais baixas.
A guerra foi deflagrada a partir da modificação na portaria 230 do MEC, segundo a qual o aluno não precisa mais pagar duas matrículas -uma na universidade que deixou e outra naquela para a qual irá se transferir- se quiser mudar de instituição. Agora, basta pagar a matrícula na nova instituição.
Desde que a medida entrou em vigor, em março do ano passado, as matrículas na Unib (Universidade Ibirapuera) só fazem crescer. Com dois campi e 170 salas na zona sul de São Paulo, a universidade recebeu 468 novos alunos no segundo semestre deste ano. No primeiro semestre deste ano, haviam sido 83, contra 65 no segundo período do ano passado, logo após a edição da portaria.
"É como comprar um carro. Você vai à concessionária, vê o carro, se impressiona e compra. Nós mostramos as instalações, a possibilidade de fazer pesquisa, mostramos que temos mestrado acadêmico agora", diz Sigmar de Mello Rode, coordenador do curso de odontologia.
Neste semestre, o curso abriu uma turma para cerca de 40 alunos de segundo semestre. Quase todos vieram da Uninove, uma das maiores universidades particulares do país, com mais de 70 mil alunos. Alguns deixaram a Unisa (Universidade de Santo Amaro).
Foi o que fez Giselle Dias Marin, 23. Ela estudava na Uninove quando resolveu fazer uma "pesquisa de mercado" em busca de um preço melhor. "Eu queria uma universidade que tivesse uma mensalidade com valor fixo. Na Uninove, a cada semestre o valor aumenta."
Ela foi orientada a conversar com colegas de classe e levá-los até a nova universidade, onde conversaram com o coordenador do curso e conheceram laboratórios. A Unib aceitou as condições dos alunos e propôs formar uma turma com 40 pessoas. Conseguiram "cerca de 35" e fecharam acordo.
"O preço que eles fizeram para nós foi bacana", diz o aluno Elias Assad Neto, 26. O valor das mensalidades foi fixado em R$ 767,35. Na Uninove, eles pagavam cerca de R$ 900.
Outra sala foi formada para alunos de sexto semestre, também em odontologia, que recebeu 119 transferências neste semestre -mais do que os que entraram pelo vestibular. Administração recebeu 240 alunos, e direito, 59.
Para Fabiola Adami, pró-reitora acadêmica da Unib, as transferências não são reflexo da medida do MEC. A Unib teve nota 2 em avaliação do MEC -a pontuação vai de 1 a 5.
Na Unisa, que também tem nota 2 no MEC, quando questionado se é possível ter preço mais baixo para um grupo de transferências, um funcionário orienta o aluno a falar pessoalmente com o coordenador do curso, porque "geralmente são abertas negociações".
A Unip (Universidade Paulista), nota 3 no MEC, oferece desconto para alunos de outras instituições. Quem abandona a concorrência paga só a mensalidade equivalente ao curso de primeiro semestre, mais barato, durante meio ano.
A UniABC, outra a obter nota 2 no MEC, ainda não tem a promoção. Mas a Folha apurou que o desconto de transferência passará a ser aplicado no próximo ano.


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