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São Paulo, sexta-feira, 07 de novembro de 2003

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SEGURANÇA SOB AMEAÇA

Soldado que teve a casa atacada, afirma que não vai se mudar; sua mulher, também policial, amamentava a filha na sala quando atiraram

"Cada minuto ali parecia uma hora", diz PM

AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

"Ouvi os tiros lá fora, corri para a sala e vi minha mulher ensanguentada, sobre o bebê. Arrastei as duas para o quarto e peguei o revólver. Naquele instante, o tempo parou."
O soldado Emerson Dias da Silva, 36, mudou-se há vinte anos para aquela casa, em Sapopemba (zona leste de São Paulo). Há 16 anos, ingressou na Polícia Militar, por admirar um vizinho policial.
Há quatro anos, o soldado Silva, conheceu a policial Flávia Nunes, 26, com quem tem duas filhas. Há um mês e sete dias, a caçula, Luisa, nasceu. A poucos minutos do ataque, a menina acordou chorando. A mulher levantou-se para amamentá-la na sala da casa. Silva ouviu os disparos.
"Cada minuto ali parecia uma hora. Só sei que eles atiraram, foram embora, os policiais chegaram e nós sobrevivemos", afirma Silva. Vinte balas atingiram a casa e o carro da família. Nunes levou um tiro de raspão no cotovelo. As crianças não foram atingidas.
O ataque ocorreu por volta das 23h30 de anteontem. Testemunhas disseram que foi realizado por quatro homens dentro de um Gol vinho. Entretanto, o soldado não tem suspeitos nem sabe se o fato está relacionado ou não aos atentados contra a polícia.
Silva pretende reforçar a segurança da casa, onde também moram sua mãe e um irmão, mas não pensa em se mudar. "A polícia tem estrutura para solucionar isso e agora eu estou com mais vontade de resolver esse caso e prender os bandidos", afirma.

"Acostumados"
O ataque ao casal não chocou os vizinhos, já "acostumados" à violência no bairro. "Isso para mim não é novidade. Um dia eu estava lavando a calçada, passaram dois homens por mim e um matou o outro com um tiro na cabeça. Só virei para a bala não pegar em mim. Na volta, ele ainda sorriu para mim e disse boa-tarde. É assim", conta uma vizinha, que não quis se identificar.
Horas antes do ataque ao casal, uma moradora viu dois homens armados perto da casa de Silva. A "lei" que impera na região, porém, é a do silêncio.
"Nesse bairro eles matam e depois ainda voltam ao lugar para perguntar o que aconteceu", afirma o irmão de Silva, Márcio, 27, que trabalha como vigilante.
O soldado reconhece que mora em um local violento. "Como moro na periferia, a troca de tiros entre eles mesmos é o dia-a-dia, então esse procedimento de arma é uma rotina nossa", afirma Silva.


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