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São Paulo, sexta-feira, 07 de novembro de 2003

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JUSTIÇA

Ela é acusada de ter ajudado no sequestro de um bebê na instituição em julho; advogado fala em cerceamento de defesa

Assistente social da Santa Casa é denunciada

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O promotor Ismael Marcelino, da 15ª Vara Criminal de São Paulo, denunciou ontem a assistente social Bernadete Pires Pacheco, 37, por crime de sequestro. Ela é acusada de ter "passado informações e oferecido meios" para que duas outras acusadas "subtraíssem" um bebê na Santa Casa de São Paulo, no dia 8 de julho.
Bernardete Pacheco está presa há 22 dias. No hospital, onde trabalha há 11 anos, o clima é de revolta, especialmente entre as colegas da Unidade de Obstetrícia e do berçário. Um abaixo-assinado de apoio a ela, com quase 800 assinaturas, foi recolhido no mesmo dia em que foi presa.
Com um mandado de prisão cautelar, obtido antecipadamente "apenas com base no depoimento das sequestradoras", segundo o advogado Douglas Melhem Júnior, o delegado Fernando Gomes, do 77º Distrito Policial, determinou a prisão da funcionária.
Sem permitir a presença do advogado (segundo o próprio Melhem Júnior), o delegado teria humilhado a assistente social, levando-o a participar da "reconstituição de um crime do qual não participou", diante de câmaras de TV e de funcionários da Santa Casa. Segundo as colegas da assistente social, ela estava algemada. O advogado Walter Perrone Filho, disse que a assistente social foi para a reconstituição escoltada por "mais de 30 policiais do GOE (Grupo de Operações Especiais da PM), como se fosse um Fernandinho Beira Mar".

Denúncia anônima
Vencidos os cinco dias da prisão cautelar, o delegado solicitou outros cinco, e finalmente a prisão preventiva por 30 dias.
Assim que os autos chegarem a um juiz da 15ª Vara Criminal, o que deve ocorrer hoje, os advogados entrarão com pedido de revogação da prisão preventiva.
A criança, que, no momento do sequestro, tinha 16 dias, é filha de M.N.G., 14, que vive numa instituição. O bebê foi localizado em 16 de outubro, depois de uma denúncia anônima. Foram presas Neusa Aparecida da Silva, 38, e sua empregada Marta Santana da Silva, 45. No relatório encaminhado ao promotor, o delegado diz que as duas revelaram a participação da assistente social, que teria oferecido "informações e meios" para que o bebê fosse levado.
Segundo o relatório, Bernadete Pacheco teria informado sobre a presença de uma criança com as características que Neusa da Silva procurava e informado onde poderia comprar um jaleco de enfermeira. Uniformizada, Neusa teria se apresentado à mãe, dizendo que o bebê teria que passar por novo exame, desaparecendo com ele em seguida.
"Elas deram detalhes da participação de Bernadete que levam a crer que houve participação no crime", diz o promotor Marcelino. "Eu não tinha outra opção senão denunciá-la, de forma que os fatos possam ser devidamente esclarecidos", afirma.
Para o advogado Melhem Júnior, o relatório não traz "imputações objetivas da participação de Bernadete" e a defesa foi "cerceada" em vários momentos. Segundo ele, a assistente social estava em consulta médica fora do hospital -seu próprio médico confirmou o fato no inquérito- e a criança dera entrada pela emergência, sem consulta agendada. "Como Bernadete poderia saber que a criança viria ao hospital naquele dia?", pergunta o advogado.
Na noite de 8 de julho, Bernadete Pacheco foi retirada de casa em um carro da polícia para reconhecer as duas acusadas, acompanhada apenas do pai, de 68 anos. Quando confirmou já ter visto a empregada Marta uma vez no hospital, o delegado a prendeu.

Um coral para esperá-la
Na Santa Casa, quando souberam do ocorrido, as colegas fizeram um abaixo-assinado de apoio a Bernadete Pacheco. Um coral do hospital -que tem 4.500 funcionários só no prédio central- está sendo preparado para recebê-la assim que for libertada. "Colocamos a mão no fogo por ela", dizem as assistentes sociais Márcia Turocca e Norma do Amaral, que trabalham com ela há dez anos e prepararam o abaixo-assinado.
Os advogados Melhem Júnior e Walter Perrone Filho pretendem entrar com ação contra o delegado Fernando Gomes, pedindo indenização por danos morais. Querem fazer o mesmo contra um apresentador de TV que, mostrando a reconstituição, insinuou que a assistente social poderia ter raptado outras crianças.
O delegado Gomes disse ontem que a fase policial já foi concluída e não cabe mais a ele se manifestar. "O delegado apura os fatos."
O advogado de Neusa da Silva, que teria sequestrado o bebê porque desejava um filho, não respondeu às ligações deixadas ontem no celular e em seu escritório.


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