|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Policiais dão tapa e jogam água em rapaz
TV flagrou agressão; tenente-coronel diz que vítima pediu a água e que o tapa foi para evitar que ele tivesse um "choque anafilático"
Vítima nega e diz que foi
agredida durante ação
policial no morro dos
Macacos (Rio); PMs também
bateram em seu primo, diz
JOÃO PAULO GONDIM
DA SUCURSAL DO RIO
Policiais militares foram flagrados anteontem agredindo
um rapaz com um tapa e atirando água nele durante operação
no morro dos Macacos, em Vila
Isabel, zona norte do Rio.
Um comandante da PM disse
que foi uma "boa ação", para
evitar "choque anafilático"
(reação imunológica que pode
resultar em estado de choque)
da vítima. Os policiais foram
filmados por uma câmera da
TV Globo agredindo Leandro
dos Santos Ezequiel, 18.
"Não foi agressão, não. A prisão foi feita, a pessoa [Leandro]
não estava em flagrante, mas
seria levada para verificar sua
ficha criminal. Como estava
muito sol, ele mesmo pediu para jogar um balde d'água", afirmou o comandante do 6º Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel Fernando Príncipe.
De acordo com o comandante, o tapa foi dado porque Leandro ameaçava cair.
"Quando jogaram a água, ele
deu uma baqueada e: "Acorda
aí'", disse o PM, tentando reproduzir o tapa. "Ele pede,
muito sol, corpo quente, água
fria: "Acorda'", relatou.
O tenente-coronel disse que
Ezequiel foi conduzido à delegacia, o que foi negado pela assessoria da Polícia Civil.
Leandro Ezequiel é primo de
Edna Ezequiel, moradora da
comunidade que em março de
2007 perdeu a filha, Alana, 12,
por uma bala perdida em operação da PM no mesmo morro.
No mês seguinte, Edna perdeu
um irmão, Hélio, 25, atingido
por bala perdida em decorrência de guerra entre quadrilhas.
Ele voltava do hospital onde a
mulher se recuperava do nascimento de um filho.
"Tapas e chutes"
Na versão de Leandro, ele estava sentado no quintal da casa
da mãe ao lado do primo Edmílson Ezequiel, 17, quando
PMs chegaram e falaram para
eles se levantarem. Segundo
ele, os PMs mandaram que a
mãe de Leandro e uma vizinha,
que fazia visita, entrassem.
"Eles me perguntaram onde
estava o fuzil dos traficantes.
Eu falei: "Não sei não, meu senhor". "Você sabe sim, você estava correndo com os bandidos.
Onde está o fuzil dos caras?".
Repeti que não sabia. Levei tapas e chutes", disse.
Ele contou que o primo também foi agredido e levou spray
de pimenta nos olhos. As agressões só cessaram, diz, com a
chegada de uma tia. Antes de os
PMs saírem, mandaram Leandro sentar no quintal.
"Um deles me perguntou: "Tá
calor aí, negão?" Fiquei quieto.
Depois balancei a cabeça, que
sim. Aí ele pediu um copo d'água e jogou em mim. Depois,
veio outro e me deu um tapa."
A assessoria da PM informou
que vai "tentar identificar os
policiais militares a partir das
imagens" e que a Corregedoria
Interna da Corporação "vai
adotar uma postura sobre a ótica penal e administrativa de
suas condutas".
A competência do inquérito é
do tenente-coronel Príncipe. O
oficial disse que deverá fazer
perícia do caso, antes de iniciar
a apuração.
Texto Anterior: Consumo: Polícia acusa Mambo de vender comida estragada Próximo Texto: Frase Índice
|