São Paulo, domingo, 07 de novembro de 2010

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Acidente do Rodoanel deixa marcas no corpo e na cabeça

Um ano após desabamento de vigas, rotina de 3 pessoas não voltou ao normal

Motorista Reginaldo, a bancária Luana e o metalúrgico Carlos foram atingidos por escombros no acidente

ALENCAR IZIDORO
DE SÃO PAULO

O km 279 da Régis Bittencourt, em Embu (Grande SP), abriga um viaduto que aparenta ser trivial para 50 mil motoristas que passam debaixo dele todos os dias.
Em abril, virou um marco simbólico para ligar os trechos oeste e sul do Rodoanel. Antes, deixou outras marcas na rotina de três pessoas.
Reginaldo Aparecido Pereira, 41, está afastado do trabalho há um ano e queixa-se de sumiços na memória.
A bancária Luana Augusto Coradi, 22, já chegou a desviar seu trajeto duas vezes e perder 40 minutos só para não ter que passar por lá.
O metalúrgico Carlos Fernando Rangel, 39, diz que se acostumou a circular debaixo do viaduto -trajeto obrigatório rumo ao trabalho.
O corpo dele, porém, não: ainda armazena um pino no braço, resultado das vigas que desabaram sobre um caminhão e dois carros na noite de 13 de novembro de 2009.
O acidente, prestes a completar um ano, ocorreu durante a construção do trecho sul do Rodoanel, no lote sob a responsabilidade do consórcio formado pela OAS, Mendes Júnior e Carioca. A obra do Estado foi aberta ao tráfego há sete meses.
A perícia detectou falhas para fixar as vigas. O inquérito policial responsabilizou dois engenheiros das empreiteiras por desabamento culposo (sem intenção), mas a Promotoria aguarda laudos para definir se serão denunciados e sob qual acusação.
Punidos mesmo, por enquanto, só os três motoristas atingidos pelos escombros.
Como compensação, restou às vítimas a assistência e a indenização paga pelo consórcio depois do desabamento -só Carlos revela a quantia, próxima de R$ 100 mil.

"A MEMÓRIA SOME"
O motorista Reginaldo, que trafegava com um caminhão quando foi atingido pelas vigas, segue de licença médica, com transtornos psicológicos, sem poder voltar ao trabalho no setor de terraplanagem pelo menos até fevereiro do ano que vem.
"Quebrei costela, levei sete pontos na cintura, quatro na cabeça. De vez em quando dá um branco, um esquecimento de algumas coisas da minha vida. A memória some, tomo remédio", diz.
Morador de Osasco, ele já voltou ao local do acidente, mas só na carona do irmão. "Para dirigir sozinho, fico desconfiado. Caminhão não dá", diz ele, cuja mulher saiu do serviço para ajudá-lo na recuperação.
O metalúrgico Carlos, que ficou preso às ferragens do carro no dia do desabamento e quatro meses em licença, precisa passar diariamente pela região do acidente porque a empresa onde ele trabalha está na vizinhança.
A preocupação, diz, vem mais da própria família. "Passo batido pra nem lembrar." Mas é impossível. Ainda sofre as consequências da fratura exposta que teve em um osso do braço -que guarda hoje uma haste de metal.
Carlos terá que passar por nova cirurgia. Não pode carregar peso e sente dificuldade para fazer certas atividades manuais em seu serviço.
O trajeto pela Régis Bittencourt, passando debaixo do viaduto do km 279, também é a rota de Luana, que mora em Osasco e trabalha em Embu.
Mas a bancária -que bateu seu carro nas vigas que desabaram e teve que sair pelo vidro- às vezes resiste.
"Não dá pra superar do dia pra noite. Minha sorte é que não tem congestionamento ali debaixo do viaduto. Mas já teve duas vezes que eu senti que não deveria passar lá. Levei 40 minutos a mais só para desviar", conta.


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