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Acidente do Rodoanel deixa marcas no corpo e na cabeça
Um ano após desabamento de vigas, rotina de 3 pessoas não voltou ao normal
Motorista Reginaldo, a
bancária Luana e o
metalúrgico Carlos
foram atingidos por
escombros no acidente
ALENCAR IZIDORO
DE SÃO PAULO
O km 279 da Régis Bittencourt, em Embu (Grande SP),
abriga um viaduto que aparenta ser trivial para 50 mil
motoristas que passam debaixo dele todos os dias.
Em abril, virou um marco
simbólico para ligar os trechos oeste e sul do Rodoanel.
Antes, deixou outras marcas
na rotina de três pessoas.
Reginaldo Aparecido Pereira, 41, está afastado do trabalho há um ano e queixa-se
de sumiços na memória.
A bancária Luana Augusto
Coradi, 22, já chegou a desviar seu trajeto duas vezes e
perder 40 minutos só para
não ter que passar por lá.
O metalúrgico Carlos Fernando Rangel, 39, diz que se
acostumou a circular debaixo do viaduto -trajeto obrigatório rumo ao trabalho.
O corpo dele, porém, não:
ainda armazena um pino no
braço, resultado das vigas
que desabaram sobre um caminhão e dois carros na noite
de 13 de novembro de 2009.
O acidente, prestes a completar um ano, ocorreu durante a construção do trecho
sul do Rodoanel, no lote sob
a responsabilidade do consórcio formado pela OAS,
Mendes Júnior e Carioca. A
obra do Estado foi aberta ao
tráfego há sete meses.
A perícia detectou falhas
para fixar as vigas. O inquérito policial responsabilizou
dois engenheiros das empreiteiras por desabamento
culposo (sem intenção), mas
a Promotoria aguarda laudos
para definir se serão denunciados e sob qual acusação.
Punidos mesmo, por enquanto, só os três motoristas
atingidos pelos escombros.
Como compensação, restou às vítimas a assistência e
a indenização paga pelo consórcio depois do desabamento -só Carlos revela a quantia, próxima de R$ 100 mil.
"A MEMÓRIA SOME"
O motorista Reginaldo,
que trafegava com um caminhão quando foi atingido pelas vigas, segue de licença
médica, com transtornos psicológicos, sem poder voltar
ao trabalho no setor de terraplanagem pelo menos até fevereiro do ano que vem.
"Quebrei costela, levei sete pontos na cintura, quatro
na cabeça. De vez em quando
dá um branco, um esquecimento de algumas coisas da
minha vida. A memória some, tomo remédio", diz.
Morador de Osasco, ele já
voltou ao local do acidente,
mas só na carona do irmão.
"Para dirigir sozinho, fico
desconfiado. Caminhão não
dá", diz ele, cuja mulher saiu
do serviço para ajudá-lo na
recuperação.
O metalúrgico Carlos, que
ficou preso às ferragens do
carro no dia do desabamento
e quatro meses em licença,
precisa passar diariamente
pela região do acidente porque a empresa onde ele trabalha está na vizinhança.
A preocupação, diz, vem
mais da própria família.
"Passo batido pra nem lembrar." Mas é impossível. Ainda sofre as consequências da
fratura exposta que teve em
um osso do braço -que guarda hoje uma haste de metal.
Carlos terá que passar por
nova cirurgia. Não pode carregar peso e sente dificuldade para fazer certas atividades manuais em seu serviço.
O trajeto pela Régis Bittencourt, passando debaixo do
viaduto do km 279, também é
a rota de Luana, que mora em
Osasco e trabalha em Embu.
Mas a bancária -que bateu seu carro nas vigas que
desabaram e teve que sair pelo vidro- às vezes resiste.
"Não dá pra superar do dia
pra noite. Minha sorte é que
não tem congestionamento
ali debaixo do viaduto. Mas
já teve duas vezes que eu senti que não deveria passar lá.
Levei 40 minutos a mais só
para desviar", conta.
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