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Boate gay da velha guarda reabre em busca de juventude
Nostro Mundo, primeira casa do gênero de São Paulo, é reaberta após reforma às vésperas de fazer 40 anos
Transformistas da casa faziam sucesso no "Show de Calouros", do programa Silvio Santos, na década de 1980
JAMES CIMINO
DE SÃO PAULO
Nos anos 1980, uma das
atrações mais esperadas do
"Show de Calouros" de Silvio
Santos era a apresentação
das transformistas que, entre
plumas e paetês, dublavam
números musicais de divas
de Hollywood e cantoras da
MPB e faziam sucesso na
boate Nostro Mundo.
A casa, que foi a primeira
do gênero em São Paulo,
completará 40 anos em 2011.
Ganhou roupa nova na última quinta-feira, depois de
um período de decadência.
Os novos proprietários
construíram uma segunda
pista, reformaram a principal
e gastaram, só em iluminação, R$ 200 mil. Querem retomar a tradição de shows musicais que fizeram do local,
na esquina da avenida Paulista com a rua da Consolação, uma referência em
shows de transformismo.
"Vai ter shows musicais,
espetáculos com dançarinos,
mas também abriremos o espaço para comédia stand-up
e exibição de filmes de curta
metragem", conta do DJ Gê
Rodrigues, que, com o sócio
Igor Calmona, pretende revitalizar a quadra chamada de
"ilha da Paulista".
Rodrigues, que não é gay,
começou a carreira em casas
do tipo há 25 anos e conheceu a Nostro Mundo no auge.
Além das noites tradicionais de sábado, com shows, e
as matinês de domingo, a casa terá eventos mensais nas
quintas e sextas, além de "after hours" de sábado para domingo até as 14h.
A intenção é trazer grandes nomes da música eletrônica e atrair novos públicos
de todas as orientações sexuais. A mudança vem de
uma percepção de que o público gay mudou muito.
"Nos anos 1990, os gays
saíam muito bem vestidos.
Hoje, você fica esbarrando
em gente suada e sem camisa
e drogada, que escolhe a música pela droga que tomou. É
difícil alguém que saia para
ouvir um DJ tocar. Queremos
valorizar a música."
O SOFÁ DA HEBE
Grande parte do sucesso
da Nostro Mundo se deve a
uma personagem que satirizava a apresentadora Hebe
Camargo. O show, com um
sofá colocado no palco da
boate, era conduzido por
Miss Biá, 71, 50 anos de carreira completos neste ano.
Eduardo Albarella, o maquiador por trás da personagem, fazia entrevistas cômicas com atores globais que,
segundo ela, iam de graça só
pelo prazer de participar.
"Entrevistei Miguel Falabella, Glória Menezes e Tarcísio Meira juntos, Claudia
Raia e até Bibi Ferreira. Só a
Hebe que eu nunca tive o prazer de receber. Ela é minha
cliente no salão até hoje, mas
não é muito chegada no babado gay, não...", conta Albarella, na sala de seu apartamento na avenida Vieira de
Carvalho, no centro de SP.
Ele lamenta a decadência
dos shows de transformismo
e diz que as drag queens de
hoje em dia não têm referência culturais.
"Drag queen, você viu
uma, viu dez. As mais poderosas têm, no máximo, um
guarda roupa, mas identidade ninguém tem. Na minha
época, para fazer número de
Elza Soares você tinha que,
no mínimo, parecer negra.
Hoje tem drag loira de peruca
lisa dublando Elza Soares,
porque cantar também ninguém mais canta, só dubla."
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