São Paulo, quarta-feira, 07 de dezembro de 2005

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VIOLÊNCIA

Investigador cometeu crime na sede do Deic; de acordo com colegas, disputa por herança motivou assassinato

Irmão mata delegado em prédio da polícia

ALEXANDRE HISAYASU
DA REPORTAGEM LOCAL

O delegado Sérgio Ricardo Guarda, 40, foi assassinado, na tarde de ontem, dentro do prédio do Deic -departamento de elite da Polícia Civil que investiga o crime organizado. O assassino, para a surpresa dos quase mil policiais que trabalham no local, foi o próprio irmão da vítima -o investigador William Ricardo Guarda.
Antes de ser preso em flagrante, William, 45, também acertou dois tiros na perna de outro investigador. Ferido, o policial não corre risco de morte.
As desavenças entre os dois irmãos, motivadas por uma disputa pela herança da família -um apartamento-, não eram novidade para os colegas de Sérgio. O delegado chegou a registrar queixa contra William na Corregedoria da Polícia Civil.
A Corregedoria iniciou uma apuração administrativa contra o investigador por causa da queixa, o que teria irritado William.
Os dois estão há mais de 20 anos atuando na polícia de São Paulo.

O crime
William, que trabalha na Delegacia Geral, foi ao prédio do Deic, na zona norte de São Paulo, na manhã de ontem, por volta das 11h, para conversar com o irmão. Ele não estava. O investigador decidiu esperá-lo até as 16h, quando Sérgio chegou ao departamento.
Segundo os policiais, William estava tranqüilo e conversou normalmente com os colegas enquanto esperava pelo irmão.
Quando ele chegou, os dois foram até sua sala e iniciaram uma conversa a portas fechadas. Em seguida, começou uma discussão. Segundo a polícia, William queria saber por que o irmão havia registrado queixa contra ele.
Houve gritos e, em seguida, vários tiros. O delegado foi atingido na cabeça e no peito e morreu na hora. William usou a arma da polícia e ainda teria atirado a esmo várias vezes. Um investigador foi atingido na perna quando tentou prender o assassino, mas está fora de perigo.
William ainda tentou fugir pelos corredores do departamento. Cercado pelos policiais, voltou para a sala do irmão e tentou fugir pela janela. Acabou preso. Até a conclusão desta edição, ele ainda não havia constituído advogado.
O corpo de Sérgio deverá ser velado hoje na Academia de Polícia. Até a noite de ontem, a família não havia definido o local do enterro. Ele era casado com uma delegada e não tinha filhos.
William foi preso em flagrante por homicídio e tentativa de homicídio. Ele ficará no Presídio Especial da Polícia Civil e responderá a procedimento administrativo que poderá resultar em sua expulsão da corporação.

"Ato insano"
O delegado divisionário do Deic, Emídio Machado Neto, disse que William costumava visitar o irmão regularmente e que o crime surpreendeu todo o departamento. "Problemas particulares o levaram [William] a esse ato insano", afirmou. Ele ainda disse que William não falou nada sobre o crime por estar muito abalado.
Neto classificou Sérgio como um "delegado de conduta irreparável e de competência absoluta" e que era muito querido no departamento. O policial trabalhava na 2ª Divecar, delegacia que investigava roubo de cargas.
O delegado estava na Polícia Civil havia 20 anos e ficou conhecido após prender o adolescente Batoré, acusado de 15 homicídios, em maio de 2003. Antes do Deic, o delegado trabalhou no DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) e no GOE (Grupo de Operações Especiais).


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