São Paulo, quarta-feira, 07 de dezembro de 2005 |
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VIOLÊNCIA Para o inspetor-geral das Polícias do Rio, versões de policiais sobre suposto confronto em morro são "incongruentes" PMs acusados da morte de garotos são presos
TALITA FIGUEIREDO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO Os 12 policiais militares que participaram da operação que resultou na morte de duas crianças, de dois adolescentes e de um jovem no morro do Estado, em Niterói, região metropolitana do Rio, tiveram decretada a prisão administrativa ontem por ordem do secretário de Segurança Pública do Rio, Marcelo Itagiba. O motivo da prisão foram os relatos "incongruentes" feitos pelos PMs durante a reconstituição da ação, segundo o inspetor-geral das Polícias do Rio, coronel João Carlos Ferreira. Eles ficarão presos por ao menos 72 horas. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, eles já ficariam detidos ontem mesmo, assim que acabassem de depor na 76ª DP, em Niterói. Até a noite de ontem, eles ainda estavam depondo. Essa contradição reforça a suspeita de que os mortos (um deles com 11 e outro com 12 anos) possam ter sido assassinados sem que houvesse confronto com os PMs. Para o deputado estadual Alessandro Molon (PT), integrante da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro que acompanhou a reconstituição, ela mostra "fortes indícios de execução". No último sábado, durante ação do 12º BPM (Batalhão de Polícia Militar), as duas crianças, dois adolescentes, de 15 e 16 anos, e um jovem de 24 anos morreram. Eles são apontados pelo comandante do batalhão, coronel Marcus Jardim, como traficantes mortos em confronto com a PM. Moradores negam. Para Jardim, a imprensa está fazendo "sensacionalismo". "Muitas crianças, e cada vez mais novas, participam do tráfico", afirmou ele, antes da reconstituição. Após a reconstituição, o coronel não quis dar declarações. Ação Doze PMs participaram da ação, no sábado à noite. Quatro deles, um sargento e três soldados, subiram o morro e participaram do tiroteio. Os outros oito ficaram na parte baixa. Segundo o inspetor-geral, os quatro participaram da reconstituição separadamente. Houve contradição nas indicações dos locais dos supostos confrontos e das mortes. O laudo de necropsia ainda não foi divulgado pela polícia. Segundo Molon, que disse ter obtido acesso às informações do laudo, tudo leva a crer que houve "execução". "Os policiais se contradizem o tempo todo. O laudo mostra que há uma quantidade elevada de tiros nos corpos, alguns pelas costas e em direções que apontam para a execução." O deputado não refuta a possibilidade de eles serem traficantes, "o que jamais justificará a execução". O inspetor das Polícias do Rio, no entanto, não quis confirmar as informações. A afirmação do inspetor foi feita com base no depoimento de um adolescente de 13 anos que foi ferido. "Ele disse que, entre os cinco mortos, havia três traficantes." À tarde, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia, deputado Geraldo Moreira, esteve no hospital onde o jovem está internado. Moreira disse que o rapaz negou ter dito que os meninos fossem traficantes. O exame que poderia apontar se havia resíduos de pólvora nas mãos das vítimas não poderá ser feito porque, segundo a polícia, os corpos foram lavados no hospital. Texto Anterior: Trabalho de risco: Procurador recebe escolta após ameaças Próximo Texto: Família abre caixão para mostrar tiros em garoto de 11 Índice |
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