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SAÚDE
Dados se referem ao paciente do SUS; na rede particular, segundo estudo inédito, o índice de detecção tardia é de 21%
31% descobrem tarde o câncer da próstata
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um terço dos homens com câncer da próstata atendidos no sistema público de saúde do Estado de
São Paulo tem a doença diagnosticada em estado avançado ou já
atingindo outras partes do corpo.
Na rede privada ou conveniada, o
índice de detecção chega a 21%.
Os dados constam do primeiro
estudo epidemiológico sobre câncer da próstata já realizado no
Brasil e que envolveu 110 urologistas paulistas (cerca de 10% do
total) e 1.915 pacientes que procuraram os serviços de saúde (públicos e privados) em diferentes estágios da doença.
Os números mostram ainda
que mais da metade dos pacientes
pesquisados (57%) teve de sair da
sua cidade de origem para conseguir o atendimento.
De acordo com o Ministério da
Saúde, há hoje uma fila de pelo
menos 3.000 homens aguardando
uma cirurgia da próstata em toda
rede SUS. Só no Hospital das Clínicas de São Paulo são 160.
O tempo de espera leva, em média, um ano, o que piora o prognóstico da doença. Detectado em
estágio inicial, há 90% de chances
de cura. Quando a doença ultrapassa os limites da próstata, o índice cai para, no máximo, 30%.
Dos pesquisados, 53,5% foram
atendidos no SUS; 37% por planos de saúde; e 9% na clínica particular. A idade média dos paciente pesquisados foi de 67,4 anos.
De acordo com o presidente
paulista da Sociedade Brasileira
de Urologia (SBU-SP), Aguinaldo
Cesar Nardi, uma das surpresas
do estudo foi o fato de a doença
predominar entre indivíduos
brancos (85,2%). Nos EUA, os negros são os mais atingidos.
Em compensação, avalia o médico, a doença tende a ser mais
agressiva entre os pacientes negros em comparação aos brancos
(47,2% contra 40,8%).
"Há fatores genéticos que explicam isso, mas não podemos excluir a dificuldade de acesso que
essa população tem aos serviços
de saúde, o que leva ao diagnóstico tardio", explica Nardi.
Miguel Srougi, professor titular
de urologia da Faculdade de Medicina da USP, considera importante a pesquisa, mas vê com cautela os resultados.
Para ele, o fato de os dados terem sido notificados voluntariamente pelos médicos pode deixar
a pesquisa enviesada, ou seja, não
refletir a realidade sobre o perfil
da doença no país.
Srougi também pondera o resultado de a maioria dos doentes
ser branca. "Os negros costumam
estar tão segregados que não conseguem nem chegar ao sistema
público de saúde", avalia.
Programa
A SBU-SP está sugerindo à Secretaria da Saúde do Estado a
criação do Programa de Saúde do
Homem, a exemplo do que a entidade, no âmbito nacional, já o fez
com o Ministério da Saúde.
Para Nardi, é preciso ampliar o
número de urologistas na rede de
saúde e, ao mesmo tempo, treinar
os clínicos-gerais para que façam
o diagnóstico precoce.
Na opinião de Srougi, o problema é garantir o atendimento global ao doente. "Detectar é mais
simples. O difícil é fazer o diagnóstico e o tratamento completo,
com radioterapia e as complicações após a cirurgia", diz.
Ele afirma que seriam necessários R$ 6 milhões por ano para o
país tratar corretamente os pacientes com câncer da próstata,
um quinto do orçamento total do
Ministério da Saúde, que fica em
torno de R$ 30 milhões.
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