São Paulo, quinta-feira, 08 de janeiro de 2004

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DIPLOMACIA

Itamaraty exige reciprocidade e tratamento "condigno" aos brasileiros; norte-americano vê discriminação a compatriotas

Brasil defende controle; Powell se queixa

ANDRÉ SOLIANI
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No mesmo dia em que o governo brasileiro sinalizou que poderá manter a identificação obrigatória de norte-americanos que entram no país caso os Estados Unidos não revejam a decisão de fichar os brasileiros, o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, ligou, à noite, para o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) para demonstrar a sua preocupação com a medida adotada pelo Brasil desde o dia 1º.
Powell, segundo a assessoria de imprensa do Itamaraty, se referiu especificamente à demora do sistema de identificação brasileiro, que está acarretando longas filas de espera nos aeroportos.
Amorim, em tom cordial, respondeu ao secretário norte-americano que o Brasil "tem todo o interesse de trabalhar positivamente para encontrar uma solução mutuamente satisfatória" nessa questão, ainda de acordo com a assessoria de imprensa.
Uma solução mutuamente satisfatória significa que o Brasil espera que os EUA também revejam a medida de identificar os viajantes brasileiros.
O ministro brasileiro ponderou com o secretário de Estado dos EUA que, se foi possível excluir "países jovens e distantes, mais razão haveria para que os membros da OEA [Organização dos Estados Americanos] pudessem encontrar uma solução que aliviasse as preocupações e evitasse constrangimentos". Brasil e EUA são membros da OEA.

Nota
Antes do telefonema, Amorim divulgou nota sobre o assunto, na primeira manifestação oficial do governo. Segundo o texto, na conversa que manteve anteontem com a embaixadora norte-americana em Brasília, Donna Hrinak, ele afirmou que a preocupação do país é "assegurar tratamento condigno aos nacionais brasileiros".
Nos EUA, durante entrevista coletiva, Powell se referiu à atitude adotada pelo Brasil como "discriminatória". Ainda defendeu a regra adotada nos EUA no momento em que o país teme atentados terroristas. O Brasil foi o único país que adotou o princípio da reciprocidade.
A decisão de colher as impressões digitais dos americanos foi da Justiça Federal de Mato Grosso, que determinou o fichamento como resposta à medida dos EUA. Só cidadãos de 27 países, na maioria europeus, são poupados do procedimento nos EUA porque não precisam de visto para estadas inferiores a 90 dias.
O governo brasileiro pretende recorrer da decisão judicial, pois avalia que não cabe à Justiça deliberar sobre política externa. O recurso, já pronto, não foi apresentado ainda, pois o Itamaraty quer ganhar tempo para convencer a administração George Bush a incluir o Brasil na lista de países que ficaram de fora da medida.


Com agências internacionais


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