São Paulo, quinta-feira, 08 de janeiro de 2004

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VIOLÊNCIA

Policiais descobriram um corpo, supostamente de um menino, após rapaz de 25 anos ser preso e admitir crimes

Jovem confessa ter assassinado 12 no Sul

TIAGO ORNAGHI
DA AGÊNCIA FOLHA

A Polícia Civil do Rio Grande do Sul começou ontem a reunir provas que corroboram as confissões feitas por Adriano da Silva, 25, de que ele teria matado 12 adolescentes no norte do Estado. Ele foi levado ainda ontem para a Penitenciária de Charqueadas (61 km de Porto Alegre). Na penitenciária, Silva será mantido afastado dos demais presos para garantir a segurança dele.
Ao depor para quatro delegados e dois promotores, Silva disse que havia escondido um dos corpos sob uma churrasqueira em uma casa em Soledade.
A polícia descobriu no local indicado um cadáver em adiantado estado de decomposição. O corpo seria de Douglas Oliveira Hass, 10, desaparecido desde abril de 2003.
Desde o início do ano passado, pelo menos 13 jovens foram mortos ou desapareceram na região de Passo Fundo (310 km de Porto Alegre).
A confissão surpreendeu a Polícia Civil. Até agora, os investigadores preferiam tratar os casos como não sendo interligados. De acordo com os delegados envolvidos, os crimes têm poucas características em comum.
No depoimento à polícia, Silva disse que "uma outra pessoa tomava conta" do corpo dele quando praticava os crimes. Segundo a confissão, ele tinha "uma bobeira" que o impedia de evitar os assassinatos mesmo sabendo que estava cometendo um crime.
"Eu sei que tenho uma dívida e preciso pagá-la", disse Silva à polícia, de acordo com o delegado Celso Rigatti, que coordenou o depoimento.
Sobre as confissões de casos que a polícia já dava como solucionados, Silva falou que "tem gente inocente presa".

Prisão e provas
Silva foi preso anteontem, em uma operação conjunta das polícias Civil e Militar do Estado, no município de Maximiliano de Almeida (na divisa com Santa Catarina). Ele estava sendo caçado desde a manhã de sábado por um efetivo da Brigada Militar. De lá, foi para Sananduva e depois para Lagoa Vermelha.
O secretário-adjunto de Justiça e Segurança do Estado, Fábio Medina Osório, afirmou que "é fundamental que mais provas sejam conseguidas para reforçar as confissões. Apenas o que Silva disse não é suficiente".
"Vamos conferir as confissões feitas por Silva com perícias, exames de DNA e com as reconstituições dos crimes", afirmou Osório.

Fio de náilon
O delegado Rigatti disse que já existem provas definitivas para ligar Silva com a morte de Daniel Bernardi Lourenço, 13.
O adolescente, que era vendedor de picolés, foi estrangulado com um fio de náilon. O corpo foi encontrado na sexta-feira pela Brigada Militar, em Sananduva.
Além das marcas deixadas pelo estrangulamento, os médicos legistas encontraram indícios de violência sexual no cadáver.
Rigatti, porém, disse que a coleta de mais provas é fundamental antes que os demais assassinatos confessados por Silva possam ser dados como solucionados.
Para o psiquiatra do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professor da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Paulo Belmonte de Abreu "é preciso um exame completo em Silva para saber de quais distúrbios ele pode sofrer".
Abreu faz uma ressalva. "O comportamento homicida não necessariamente está ligado com alguma patologia psiquiátrica. Ele pode ter tudo, inclusive nada."
Silva deve ficar preso em Charqueadas por pelo menos 30 dias. O prazo de um mês foi o estipulado para a sua prisão temporária. Esse tempo pode ser prorrogado.

Revolta
A Polícia Civil teve de transferir Silva de Sananduva para evitar que ele fosse linchado pelos moradores. A notícia sobre a sua prisão se espalhou rapidamente pela cidade, que tem cerca de 14 mil habitantes. Aproximadamente 3.000 pessoas, segundo a polícia, se aglomeraram em frente ao prédio da delegacia e ficaram aguardando sua chegada.
Devido ao clima tenso, ele foi transferido para Lagoa Vermelha, distante cerca de 50 quilômetros.
Silva começou a depor em Lagoa Vermelha por volta das 19h de anteontem. Como entre as mortes que Silva confessou está a de Ederson Leite, 12, de Lagoa Vermelha, a polícia decidiu retirá-lo da cidade.


Colaborou GERSON LOPES, free-lance para a Agência Folha, em Passo Fundo


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