São Paulo, domingo, 08 de fevereiro de 2004

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Uniforme é amado e odiado por alunos

DA REPORTAGEM LOCAL

Gosto não se discute. Cada qual tem o seu. Mas, quando se trata de necessidade, a satisfação depende de critérios básicos e impessoais. É assim a relação dos alunos da rede municipal de ensino com os uniformes distribuídos pela Prefeitura de São Paulo.
Os alunos mais carentes receberam com entusiasmo os dois modelos de uniforme distribuídos dentro do programa de Educação Inclusiva, que substituiu roupas furadas, rasgadas ou encardidas que distinguiam essas crianças das demais ou até impediam que elas fossem para a escola.
Por outro lado, os alunos da rede municipal oriundos de famílias com alguma condição financeira, em especial os adolescentes, desprezaram as peças.
"Recebi o uniforme e não uso porque ele é ridículo", desdenha uma aluna de 13 anos da Emef Prof. Almeida Júnior, na zona sul, que preferiu não revelar o nome. Algumas de suas colegas disseram ter doado os uniformes para "parentes que vivem no Nordeste e não têm o que vestir".
Na porta da Emef Monteiro Lobato, na zona oeste, ao serem questionados sobre o motivo de não estarem usando o uniforme, garotos brincaram: "O uniforme é "vai-e-volta". Vai para casa e não volta para a escola nunca mais".
Para Leny Magalhães Mrech, professora da USP e especialista em educação inclusiva, dar uniformes a adolescentes é voltar à década de 50. "Ao institucionalizar o uniforme, a prefeitura tenta formatar o adolescente. E isso é tudo o que ele não quer."
Segundo a ONG Ação Educativa, que avaliou pontualmente os recursos da Secretaria Municipal da Educação empregados nos programas de Educação Inclusiva, "a prioridade [de recursos] atribuída aos uniformes é excessiva e, portanto, indevida, havendo diversas outras necessidades anteriores na busca de uma educação de qualidade para todos."

Necessidade e repasse
Na opinião de José Luiz Garcia Silva, 42, diretor da escola municipal Vargem Grande, na zona sul de São Paulo, a falta de roupas era um problema que afastava os alunos das aulas, especialmente os adolescentes. "As crianças não ligam de vir com as roupas surradas. Mas o adolescente já é mais vaidoso. Prefere faltar à aula a vir com uma camiseta cheia de furinhos", diz. O uniforme escolar, acredita ele, preencheu essa lacuna entre jovens de baixa renda.
Fã do uniforme da prefeitura, Emerson dos Santos Dias, 12, não pode mais usar o casaco nem a calça recebidos em 2002 porque as peças ficaram pequenas. "Passei o uniforme para a minha irmã. Já deveria ter recebido outro, mas chegaram conjuntos só para os alunos mais novos", reclama.
Segundo a secretária municipal da Educação, Maria Aparecida Perez, o uniforme de tactel (para o frio) não teve vencedor na licitação para 14 e 16 anos. Então, no ano passado, alunos até uma certa idade receberam o conjunto enquanto os mais velhos não. "Quem precisa de um novo conjunto deve solicitá-lo na escola para receber a reposição."



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