São Paulo, domingo, 08 de fevereiro de 2004

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Alunos da rede estadual aguardam vaga no município; uniforme e material gratuitos pesam na decisão dos pais

Benefícios provocam filas nas municipais

DA REPORTAGEM LOCAL

Um nova fila de espera tem se formado nos livros de cadastros das escolas municipais: são crianças já matriculadas na rede estadual que aguardam uma vaga no ensino fundamental do município de São Paulo.
Só em duas escolas da coordenadoria de educação de Itaquera, na zona leste de São Paulo, 896 crianças esperam vagas na 1ª e na 5ª séries. Em outras nove escolas das regiões norte, sul e oeste, há mais 1.500 alunos na fila de espera. A prefeitura não tem um balanço da fila em toda a cidade.
Os pais alegam várias razões para essa preferência: desde a proximidade da escola municipal até o fato de a prefeitura distribuir gratuitamente uniforme e material escolar, o que não acontece na rede estadual.
O caso de Jéssica Marques, 10, é um exemplo. Ela estudou até o ano passado na escola estadual "Nobrezinha", que atende crianças da 1ª à 4ª série. Neste ano, já na 5ª série, a menina foi transferida para o "Nobrezão", que, segundo o pai, José Maria Marques, 54, fica "a uns 20 minutos" da sua casa.
Desde julho do ano passado, ele pleiteia uma vaga na Emef Eduardo Prado, que tem fila de espera de 244 crianças para a 5ª série. "Fica mais perto da minha casa", justifica. Detalhe: apenas dois quarteirões separam as duas escolas.
A empregada doméstica Maria Eliana Mendes, 44, vive situação parecida. A filha Alessandra Mendes Araújo, 10, foi transferida para a escola estadual Jardim Iguatemi que, segundo a mãe, fica a 4 km de sua casa. Desde o início do ano, a mãe tenta transferir a filha para a Emef Benedito Montenegro.
Mendes diz que, para manter a filha na escola estadual, teria de pagar R$ 50 mensais à perua escolar. Se conseguir vaga na Benedito Montenegro, ela espera que a filha seja beneficiada pelo Vai-e-Volta, já que 2 km separam a sua casa da escola municipal.
Ela também diz que não tem condições de pagar uniforme e material escolar para a filha, itens que teria gratuitamente na rede municipal. Mendes ganha R$ 300 mensais e conta que, em anos anteriores, a antiga escola da filha fornecia o uniforme. "Para comprar material escolar, eu fazia uma vaquinha na família." Ela tem outros dois filhos, de 19 e 22 anos, que interromperam os estudos na 4ª e na 6ª série, respectivamente. Hoje, vivem de bico.
A desempregada Rosângela Fagundes de Sousa, 29, de Guaianazes, também na zona leste, matriculou a filha Jéssica Fagundes, 8, na 3ª série de uma escola estadual, mas está na fila de espera do CEU Jambeiro desde o ano passado.
Ela tem outros três filhos -Wendel, 2, Wellington, 3, e Wilson, 4. Conseguiu uma vaga em uma escola municipal de ensino infantil para Wilson, mas ainda aguarda vagas em creches da região para os outros dois meninos. A única renda da família é o salário de R$ 400 do marido, que trabalha na Sabesp.
"Não tenho dinheiro para o uniforme e o material escolar. Se ela conseguir vaga no município, são duas despesas a menos."
Segundo a secretária da Educação, Maria Aparecida Perez, não são apenas os programas de educação inclusiva que atraem alunos da rede estadual. "É todo um conjunto de ações. Toda escola tem sala de leitura, laboratório de informática etc."
A preferência pelo ensino municipal, afirma Perez, está sendo verificada em todas as regiões da cidade, mas o município não tem como assumir os alunos da rede estadual. "Temos um limite de atendimento. Não há nenhuma criança do ensino fundamental fora da escola."
Perez diz que a rede estadual tem diminuído vagas para alunos do ensino fundamental. "A rede estadual diminuiu de 1 milhão [de vagas] para 750 mil."
Em nota enviada à Folha, a Secretaria de Estado da Educação nega que tenha diminuído vagas.
(CLÁUDIA COLLUCCI)


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