São Paulo, domingo, 08 de fevereiro de 2004

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Vacas têm direito a pôr-do-sol e música ao vivo

DA REVISTA

Imagine uma fazenda onde galinhas vivem soltas, só comem alimentos sem aditivos químicos ou agrotóxicos e recebem tratamento homeopático. Ou outra em que as vacas têm direito a vista panorâmica e até música ao vivo.
Não, não se trata de nenhuma continuação do filme "A Fuga das Galinhas" ou aventuras do gênero, em que os animais são os protagonistas. Esse tipo de propriedade rural existe, embora seja raríssima no Brasil. São fazendas destinadas à produção de ovos e leite "verdes", supostamente isentos de contaminação química e com métodos de produção que respeitam o ambiente.
Na fazenda Luiziania, em Entre Rios de Minas, as cem galinhas poedeiras vivem soltas numa área de 5.000 m2, comendo capim e insetos, além de milho e sobra da horta. Cada uma tem seu poleiro e, se adoece, é tratada com homeopatia e fitoterapia, segundo a dona da fazenda, Iara Rolim, 53.
As galinhas produzem em média quatro dúzias de ovos orgânicos por dia. "Pode ser considerado pouco pelo número de aves, mas aqui elas não vivem numa linha de produção", explica. Outro exemplo é a Estância Demétria, em Botucatu (SP), onde 40 vacas da raça girolanda acordam ao som de flauta antes de serem ordenhadas. Há duas áreas especiais de pastagem, uma arborizada "para garantir ar puro e relax" e outra com vista para o pôr-do-sol.
"Não somos só nós, humanos, que precisamos de uma belo visual para mudar o nosso astral", diz o administrador da fazenda, Paulo Roberto Rodrigues Cabrera, 46. "Melhora a qualidade de vida dos animais e, conseqüentemente, a qualidade do leite."
Não dá para afirmar que realmente o "astral" influencie a qualidade dos produtos "verdes", mas não há dúvida de que infla -e muito- o preço. Na Luiziânia, cada dúzia de ovos é vendida por R$ 5, praticamente o dobro do ovo comum. Na Demétria, um litro de leite sai por R$ 2,50, contra os cerca de R$ 1,30 do longa vida.
Apesar disso, a produção e o consumo de orgânicos não param de crescer. No exterior, ela já chegou a produtos industrializados, passando por papinha de bebê e até ração de gato e cachorro.
Das 700 propriedades certificadas pelo IBD (Instituto Biodinâmico), de Botucatu, apenas 55 fazendas em todo o país se dedicam a carnes e ovos orgânicos.
O IBD é a única certificadora 100% brasileira monitorada por quatro organizações estrangeiras, entre elas o USDA (Departamento de Agricultura dos EUA) e o Ifoam, que regulamente o movimento orgânico internacional.
A partir de abril, não só o número de fazendas deve crescer, como a diversidade de produtos. O Ministério da Agricultura está definindo as empresas que serão autorizadas a certificarem os produtos orgânicos com base em uma lei sancionada em dezembro.



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