São Paulo, terça-feira, 08 de fevereiro de 2005

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DE CAMAROTE

Camisetas medonhas, boatos e cansaço

DANUZA LEÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Todo ano é a mesma coisa: "Nesse Carnaval vou pra bem longe, não quero ouvir o ronco de uma cuíca, o som de um tamborim, e escola de samba, nem pensar". E todo ano é a mesma coisa: você vai se animando, descola uma camiseta, consegue, e, no domingo de Carnaval, antes de sair, fica olhando a TV, para ir se pondo no clima. Antes que eu esqueça: por que todas as camisetas de todos os camarotes, to-dos os anos, são tão medonhas?
E vai, toda animada. O camarote -neste ano o da Nestlé, que está patrocinando a Grande Rio- deu um show: um conforto total. Os organizadores sacaram que, com menos gente, fica melhor para todo mundo, e ainda tinha mais: a cobertura, onde alguns privilegiados podiam ver as escolas de cima, no fresquinho.
Por toda a parte, vasos cheios de todas as barrinhas de chocolate que se pode imaginar, e geladeiras com sorvetes. Todas as bebidas, claro, e um jantar de verdade, sem embromação. Um luxo, esse camarote.
A TV Globo compareceu em peso: Miguel Falabela, Suzana Vieira se dizendo uma abusada, tendo a coragem de enfrentar a avenida no dia seguinte, Wolf Maia, Zezé Mota, Jorge Benjor, uns do Big Brother, segundo me disseram, e mais um grupo francês que está cuidando do ano do Brasil na França -que é 2005. Um perigo, os regionalismos brasileiros na França.
Rolou um boato: que a prefeitura tinha, depois de anos de negociação, acertado o preço para comprar a fábrica da cervejaria que fica atrás do sambódromo, e pedido a Oscar Niemeyer para fazer o projeto que completaria, enfim, sua obra. Oscar, que fez o sambódromo de graça para Brizola, teria pedido R$ 380 mil e Cesar Maia achou caro; se pensasse melhor, acharia até barato.
Mas as escolas, as escolas? Bem, quando elas entram na avenida são um deslumbramento. A Mangueira então, com o pessoal das arquibancadas todo de bandeirinhas na mão -foram distribuídas 7.000-, e o povo cantando o samba, que não é nada fácil, é mesmo competente; e todo mundo, no fundo do coração, é Mangueira.
O tempo que durou o desfile fiquei esperando aparecer, em cima de um carro alegórico, a ministra Dilma Roussef, vestida de tailleur, de óculos, bem séria. Quem consegue controlar a imaginação?
Mas as escolas são grandes, e demoram a passar; depois do quarto carro alegórico, você sai para tomar uma água, encontrar um amigo e sobretudo -sobretudo- conversar sobre outro assunto. Aí volta, e começa a achar todas as alas iguais, todas as escolas iguais -quase iguais. Não são, claro, mas só Leci Brandão e Haroldo Costa sabem disso.
Às 4h, faltando ainda três escolas para passar, você entra na van e volta para casa, morta. Seus companheiros de viagem estão derrubados, alguns dormem no caminho, a maioria está calada, destruída, arrasada. Mas não há de ser nada: amanhã tem mais, e as escolas mais esperadas vão entrar na avenida tarde, o que significa que a volta não será antes das 6h da manhã.
Mas tudo pelo Carnaval; evoé, Momo!!!


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