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DE CAMAROTE
Camisetas medonhas, boatos e cansaço
DANUZA LEÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Todo ano é a mesma coisa:
"Nesse Carnaval vou pra bem
longe, não quero ouvir o ronco
de uma cuíca, o som de um tamborim, e escola de samba, nem
pensar". E todo ano é a mesma
coisa: você vai se animando, descola uma camiseta, consegue, e,
no domingo de Carnaval, antes
de sair, fica olhando a TV, para ir
se pondo no clima. Antes que eu
esqueça: por que todas as camisetas de todos os camarotes, to-dos os anos, são tão medonhas?
E vai, toda animada. O camarote -neste ano o da Nestlé, que
está patrocinando a Grande
Rio- deu um show: um conforto total. Os organizadores sacaram que, com menos gente, fica
melhor para todo mundo, e ainda tinha mais: a cobertura, onde
alguns privilegiados podiam ver
as escolas de cima, no fresquinho.
Por toda a parte, vasos cheios
de todas as barrinhas de chocolate que se pode imaginar, e geladeiras com sorvetes. Todas as bebidas, claro, e um jantar de verdade, sem embromação. Um luxo, esse camarote.
A TV Globo compareceu em
peso: Miguel Falabela, Suzana
Vieira se dizendo uma abusada,
tendo a coragem de enfrentar a
avenida no dia seguinte, Wolf
Maia, Zezé Mota, Jorge Benjor,
uns do Big Brother, segundo me
disseram, e mais um grupo francês que está cuidando do ano do
Brasil na França -que é 2005.
Um perigo, os regionalismos
brasileiros na França.
Rolou um boato: que a prefeitura tinha, depois de anos de negociação, acertado o preço para
comprar a fábrica da cervejaria
que fica atrás do sambódromo, e
pedido a Oscar Niemeyer para
fazer o projeto que completaria,
enfim, sua obra. Oscar, que fez o
sambódromo de graça para Brizola, teria pedido R$ 380 mil e
Cesar Maia achou caro; se pensasse melhor, acharia até barato.
Mas as escolas, as escolas? Bem,
quando elas entram na avenida
são um deslumbramento. A
Mangueira então, com o pessoal
das arquibancadas todo de bandeirinhas na mão -foram distribuídas 7.000-, e o povo cantando o samba, que não é nada
fácil, é mesmo competente; e todo mundo, no fundo do coração,
é Mangueira.
O tempo que durou o desfile fiquei esperando aparecer, em cima de um carro alegórico, a ministra Dilma Roussef, vestida de
tailleur, de óculos, bem séria.
Quem consegue controlar a imaginação?
Mas as escolas são grandes, e
demoram a passar; depois do
quarto carro alegórico, você sai
para tomar uma água, encontrar
um amigo e sobretudo -sobretudo- conversar sobre outro assunto. Aí volta, e começa a achar
todas as alas iguais, todas as escolas iguais -quase iguais. Não
são, claro, mas só Leci Brandão e
Haroldo Costa sabem disso.
Às 4h, faltando ainda três escolas para passar, você entra na van
e volta para casa, morta. Seus
companheiros de viagem estão
derrubados, alguns dormem no
caminho, a maioria está calada,
destruída, arrasada. Mas não há
de ser nada: amanhã tem mais, e
as escolas mais esperadas vão entrar na avenida tarde, o que significa que a volta não será antes das
6h da manhã.
Mas tudo pelo Carnaval; evoé,
Momo!!!
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