São Paulo, segunda-feira, 08 de fevereiro de 2010

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Tradição x Inovação

Principais destinos do Nordeste durante o Carnaval, Bahia e Pernambuco adotam estratégias opostas para atrair os foliões

MATHEUS MAGENTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Principais destinos do Nordeste durante o Carnaval e rivais na disputa por quem faz a melhor festa, Bahia e Pernambuco adotam estratégias opostas para atrair os foliões aos seus Estados. Enquanto os baianos apostam na criatividade e inovação, os pernambucanos jogam todas as suas fichas na manutenção da tradição.
Neste ano, em Salvador, a música eletrônica ganhará mais espaço na folia, avançando sobre o axé nos blocos e nos camarotes.
Já em Recife e Olinda, o frevo e o maracatu mantêm o domínio no Carnaval de rua das cidades pernambucanas.
Na capital baiana, a principal atração da cena eletrônica, o DJ francês Bob Sinclar, dos hits "World, Hold On" e "Love Generation", desfilará sábado no bloco Praficar/Salvador, no circuito Dodo (Barra).
Também foram confirmados no mesmo circuito a cantora italiana Moony e os DJs Kaskade, Tocadisco, Laidback Luke e Ferry Corsten. A maioria dos camarotes também contratou DJs para a folia.
Em Recife, o sábado é dia do Galo da Madrugada, o maior bloco carnavalesco do mundo, de acordo com "Guinness Book", o livro dos recordes.
A agremiação, com aproximadamente 30 trios elétricos orientados a tocar apenas ritmos pernambucanos, leva cerca de 1,5 milhão de foliões para as ruas da cidade.
A abertura oficial do Carnaval na capital pernambucana, entretanto, ocorrerá um dia antes, na sexta, com a apresentação de 700 batuqueiros de 17 grupos de maracatu, regidos pelo percussionista Naná Vasconcelos, no Marco Zero.
Para este ano, foram criados 16 polos de folia em Recife, onde se apresentarão músicos locais e artistas nacionais, como Alceu Valença, Antonio Carlos Nóbrega, Lenine, Nação Zumbi, Otto e Quinteto Violado.
Como ocorre todos os anos, em todos os shows, e também nas ruas de Recife e Olinda, não haverá cobrança de ingresso. No Carnaval de Pernambuco, não existem abadás e cordões de isolamento nos blocos.
Na Bahia, mesmo com abadás que custam até R$ 890 por dia, os blocos de axé music com Chiclete com Banana, Ivete Sangalo, Asa de Águia e Claudia Leitte, continuam a ser os mais procurados pelos foliões, arrastando quase 2 milhões de pessoas em três circuitos.
Na "guerra de números" entre os Estados, a Bahia estima que receberá 500 mil visitantes durante todos os dias de Carnaval. Em Pernambuco, por sua vez, são esperadas 700 mil pessoas no período.

Crise de identidade
Autor de estudos sobre o Carnaval, o historiador Milton Araújo Moura, da Universidade Federal da Bahia, acredita que a festa baiana sofre de "crise de identidade", porque os blocos de trios elétricos "botam na rua a música que quiserem".
"A música eletrônica não tem espaço garantido no Carnaval baiano. É mais a novidade pela novidade, e não a inserção do eletrônico na música ou na cultura baiana", afirmou.
Para ele, os circuitos oficiais de Pernambuco conseguem manter os tradicionais frevo e maracatu em razão de uma "política cultural definida".
"O Centro Histórico de Olinda é quase como um templo do frevo, os foliões têm como uma relação religiosa e lúdica com a preservação da cultura, como se eles fossem responsáveis pela pureza do local", disse.


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