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Já no Brasil, barrado diz que Europa discrimina país pobre
Os estudantes Pedro Lima, 25, e Patrícia Rangel, 23, desembarcaram à noite no Rio
Ela não quis dar entrevistas; Lima diz que política se deve ao fato de europeus temerem perder postos de trabalho para imigrantes
ADRIANA CHAVES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
Ao desembarcar no Rio ontem à noite, o mestrando em
ciência política Pedro Luiz Lima, 25, atribuiu o impedimento
de sua entrada na Espanha a
uma política discriminatória,
de fechamento das fronteiras
da União Européia.
Ele e a colega Patrícia Duarte
Rangel, 23 -que deixou o aeroporto internacional Tom Jobim, na zona norte do Rio, sem
dar entrevistas-, foram barrados na quarta-feira em Madri,
onde fariam uma conexão para
seguir para um congresso de
ciência política em Lisboa.
Os dois, que fazem mestrado
no Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), só conseguiram retornar ontem ao Brasil.
O mestrando disse acreditar
que "a reciprocidade é a única
forma de o Brasil se colocar",
evitando que brasileiros tenham seus direitos desrespeitados.
"Acho que a discriminação é
de nacionalidade, talvez, mas
muito mais da União Européia
se fechando cada vez mais para
os países pobres", disse Lima.
Para ele, "a paranóia européia é responsável pela recusa
da entrada de tantos brasileiros
e de tantos latino-americanos",
devido ao temor dos europeus
de perderem postos de trabalho para os imigrantes. "Essa
medida pode ser uma resposta
às eleições na Espanha no domingo", declarou.
"As vítimas não somos só eu e
a Patrícia. Tivemos um destaque maior por causa do Iuperj,
porque o instituto se mobilizou
muito e porque somos estudantes de classe média alta e tínhamos todos os requisitos que
eles pediram: dinheiro, hotel e
tudo mais. Mais gente é vítima
[da política de imigração espanhola]", afirmou.
Só após quatro horas de espera, os dois estudantes brasileiros foram autorizados a beber
água pelas autoridades da imigração espanhola. Eles só puderam se alimentar e se comunicar com a família depois de
uma longa espera e de terem
passado por duas outras salas.
"Ficamos numa sala das 11h
às 15h, sem comida nem água.
Foi o momento mais difícil.
Ainda temíamos perder a conexão, mas já estávamos tecnicamente deportados", relatou Lima. Depois eles foram conduzidos em um ônibus até o controle de imigração.
"Nessa sala havia um bebedouro, tinha a metade do tamanho da primeira e a mesma
quantidade de gente."
Os dois ainda passaram por
outro local antes de serem levados para um quarto onde havia
camas, telefones públicos, água
e comida. "Só depois de 18 horas pudemos falar com nossa
família e com o cônsul. Nesse
local, havia predominantemente brasileiros."
De acordo com o estudante,
os brasileiros eram preteridos
também nas entrevistas. "Eles
diziam que iam ouvir primeiro
os hispano-falantes. E de fato
muitos foram liberados antes."
Descanso
Além de um atraso de mais
de uma hora no vôo que os
trouxe da Espanha, Lima e Patrícia ficaram por cerca de três
horas retidos no aeroporto do
Galeão e só conseguiram se encontrar com parentes e amigos
por volta das 22h.
"A única coisa que quero agora é descansar e tomar um banho. Faz 88 horas que não tomo
banho", disse o rapaz, que era
esperado pelos pais, os professores universitários Rosaly e
Luiz Carlos Lima.
"Meu filho foi seqüestrado
em vários graus: de cidadania e
de trabalho intelectual, já que
ele iria apresentar um trabalho
concluído em Portugal. A Espanha é o cão de guarda da Europa, sua tradição histórica é de
inquisição e da ditadura franquista", disse o professor.
Os pais de Patrícia, que vivem em Juiz de Fora (MG),
perderam-se na chegada ao Rio
e preferiram esperar a jovem
na casa dela.
Pelo menos mais dois brasileiros chegaram no vôo 6025 da
Ibéria, que trouxe os estudantes. "Eu moro em Portugal, tenho visto de permanência e
costumo passar pela Espanha",
disse a cabeleireira Genucir
Gabriel da Soledade, 28.
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