São Paulo, sábado, 08 de março de 2008

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Já no Brasil, barrado diz que Europa discrimina país pobre

Os estudantes Pedro Lima, 25, e Patrícia Rangel, 23, desembarcaram à noite no Rio

Ela não quis dar entrevistas; Lima diz que política se deve ao fato de europeus temerem perder postos de trabalho para imigrantes

ADRIANA CHAVES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Ao desembarcar no Rio ontem à noite, o mestrando em ciência política Pedro Luiz Lima, 25, atribuiu o impedimento de sua entrada na Espanha a uma política discriminatória, de fechamento das fronteiras da União Européia.
Ele e a colega Patrícia Duarte Rangel, 23 -que deixou o aeroporto internacional Tom Jobim, na zona norte do Rio, sem dar entrevistas-, foram barrados na quarta-feira em Madri, onde fariam uma conexão para seguir para um congresso de ciência política em Lisboa.
Os dois, que fazem mestrado no Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), só conseguiram retornar ontem ao Brasil.
O mestrando disse acreditar que "a reciprocidade é a única forma de o Brasil se colocar", evitando que brasileiros tenham seus direitos desrespeitados.
"Acho que a discriminação é de nacionalidade, talvez, mas muito mais da União Européia se fechando cada vez mais para os países pobres", disse Lima.
Para ele, "a paranóia européia é responsável pela recusa da entrada de tantos brasileiros e de tantos latino-americanos", devido ao temor dos europeus de perderem postos de trabalho para os imigrantes. "Essa medida pode ser uma resposta às eleições na Espanha no domingo", declarou.
"As vítimas não somos só eu e a Patrícia. Tivemos um destaque maior por causa do Iuperj, porque o instituto se mobilizou muito e porque somos estudantes de classe média alta e tínhamos todos os requisitos que eles pediram: dinheiro, hotel e tudo mais. Mais gente é vítima [da política de imigração espanhola]", afirmou.
Só após quatro horas de espera, os dois estudantes brasileiros foram autorizados a beber água pelas autoridades da imigração espanhola. Eles só puderam se alimentar e se comunicar com a família depois de uma longa espera e de terem passado por duas outras salas.
"Ficamos numa sala das 11h às 15h, sem comida nem água. Foi o momento mais difícil. Ainda temíamos perder a conexão, mas já estávamos tecnicamente deportados", relatou Lima. Depois eles foram conduzidos em um ônibus até o controle de imigração.
"Nessa sala havia um bebedouro, tinha a metade do tamanho da primeira e a mesma quantidade de gente."
Os dois ainda passaram por outro local antes de serem levados para um quarto onde havia camas, telefones públicos, água e comida. "Só depois de 18 horas pudemos falar com nossa família e com o cônsul. Nesse local, havia predominantemente brasileiros."
De acordo com o estudante, os brasileiros eram preteridos também nas entrevistas. "Eles diziam que iam ouvir primeiro os hispano-falantes. E de fato muitos foram liberados antes."

Descanso
Além de um atraso de mais de uma hora no vôo que os trouxe da Espanha, Lima e Patrícia ficaram por cerca de três horas retidos no aeroporto do Galeão e só conseguiram se encontrar com parentes e amigos por volta das 22h.
"A única coisa que quero agora é descansar e tomar um banho. Faz 88 horas que não tomo banho", disse o rapaz, que era esperado pelos pais, os professores universitários Rosaly e Luiz Carlos Lima.
"Meu filho foi seqüestrado em vários graus: de cidadania e de trabalho intelectual, já que ele iria apresentar um trabalho concluído em Portugal. A Espanha é o cão de guarda da Europa, sua tradição histórica é de inquisição e da ditadura franquista", disse o professor.
Os pais de Patrícia, que vivem em Juiz de Fora (MG), perderam-se na chegada ao Rio e preferiram esperar a jovem na casa dela.
Pelo menos mais dois brasileiros chegaram no vôo 6025 da Ibéria, que trouxe os estudantes. "Eu moro em Portugal, tenho visto de permanência e costumo passar pela Espanha", disse a cabeleireira Genucir Gabriel da Soledade, 28.


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