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JUVENTUDE ENCARCERADA
Medida foi adotada após rebelião destruir 2 unidades; governador diz que novos prédios vão atrasar
Febem manda 131 adolescentes para a prisão
DA REPORTAGEM LOCAL
Em meio a uma nova crise, a Febem adotou ontem uma antiga
fórmula para superar a falta de vagas provocada pela destruição de
unidades em rebeliões: transferiu
internos para uma penitenciária
destinada a adultos.
Desta vez, 131 jovens do complexo do Tatuapé (zona leste de
São Paulo) foram levados para o
prédio ocupado até 2005 por uma
penitenciária feminina, localizada
no mesmo quadrilátero.
A transferência, pelo prazo máximo de seis meses, foi anunciada
pelo governador de São Paulo,
Cláudio Lembo (PFL). Logo depois, ele admitiu, contrariando os
anúncios de seu antecessor e presidenciável Geraldo Alckmin
(PSDB), não ter condições de garantir a entrega, até o final deste
ano, das 41 unidades que a fundação pretende construir para desativar completamente o Tatuapé.
"Temos segurança absoluta em
12 unidades até o fim do ano.
Queria mais, queria as 40, mas
não vou ser demagogo. Com segurança, com os pés no chão, 12
estarão prontas. As outras, faremos de tudo para aprontar", disse. As 12 unidades representam
cerca de 670 vagas. A Febem Tatuapé abrigava, antes da transferência de ontem, cerca de 1.220
adolescentes.
Esta foi a quarta vez que a Febem transferiu internos para cadeias desde 1999, quando uma rebelião destruiu o complexo Imigrantes (veja quadro).
O envio de jovens para uma prisão contraria o ECA (Estatuto da
Criança e do Adolescente), que
prevê que os jovens devem cumprir a medida socioeducativa em
unidades que oferecem tratamento diferenciado, com escola e
atendimento psicológico.
A autorização judicial para a
nova transferência tem caráter
emergencial. O corregedor-geral
da Justiça, Gilberto Passos de
Freitas, determinou a transferência de 131 internos das unidades
14 e 23 do complexo do Tatuapé,
destruídas em uma rebelião ocorrida entre terça e quarta-feira. Os
jovens foram levados para três
alas reformadas da penitenciária.
Antes de abrigar detentas adultas
condenadas, entre 1991 e 2005, o
prédio era utilizado pela Febem.
Atualmente, a entidade tem
5.800 internos em todo o Estado.
No ano passado, eram 6.757; em
2004, 6.620; em 2003, 6.705.
No relatório que embasou a decisão, o juiz auxiliar Reinaldo Cintra Torres de Carvalho, que vistoriou o Tatuapé, afirmou que as
unidades estão completamente
destruídas. "A Febem informou
que não tem vagas para transferir
internos com esse perfil [grave]
para outras unidades."
Mas ele também afirmou que a
transferência foi autorizada porque a construção de unidades da
Febem está em andamento.
Em março de 2005, Alckmin
prometeu construir as 41 unidades em 150 dias e desativar o Tatuapé. Na ocasião, afirmou que as
unidades seriam erguidas em
áreas do Estado e, por isso, não
haveria necessidade de autorização dos municípios, principal argumento utilizado hoje pela presidente da entidade, Berenice
Giannella, para justificar a não-conclusão das obras.
Em 22 de fevereiro, apesar de o
governo já admitir atrasos nas
obras, a Febem divulgou nota na
qual prometia as novas unidades
para o fim deste ano.
Entidades de direitos humanos
que fizeram a acusação de maus-tratos e espancamento de internos do Tatuapé na OEA (Organização dos Estados Americanos),
em novembro de 2005, criticaram
a transferência dos jovens.
Hélio Bicudo, diretor da Fundação Interamericana de Defesa dos
Direitos Humanos, afirmou que
transferir jovens para penitenciária de adultos é "absurdamente
ilegal". Ele revelou que pretende
revogar, em instâncias superiores
da Justiça, a transferência.
(ANDRÉ CARAMANTE, CONRADO CORSALETTE E GILMAR PENTEADO)
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