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Relatório já apontava controle aéreo inseguro
Documento da federação internacional de controladores, feito após acidente com o Boeing da Gol, foi enviado a Lula
Falta de preparo dos operadores e equipamentos obsoletos estão entre os problemas apontados; governo nada respondeu
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O sistema de controle de tráfego aéreo brasileiro é falho e
tem um nível baixo de segurança. Os controladores não têm
preparo, os equipamentos são
velhos, não há suporte técnico,
a cobertura de rádio é ruim e os
sistemas operacionais são inadequados. E, apesar disso, a Aeronáutica afirma ter um dos
melhores e mais modernos sistemas do mundo.
Esse é o resumo do relatório
preparado pela Ifatca (Federação Internacional das Associações dos Controladores de Tráfego Aéreo) após uma vistoria
geral do Cindacta-1 (Brasília)
em outubro do ano passado, em
decorrência do choque entre o
Boeing da Gol e o jato Legacy
que deixou 154 mortos em 29
de setembro.
O documento interno, obtido
com exclusividade pela Folha,
lista os problemas que acabaram sendo evidenciados nos
últimos seis meses de crise aérea, como a precariedade do
sistema de gerenciamento de
freqüência de rádio ou de planos de vôo. Confirma o despreparo e a sobrecarga dos controladores de tráfego aéreo.
E aponta para outros problemas que podem causar novos
episódios no apagão aéreo, já
que eles não teriam sido solucionados desde então.
Relatórios
Os resultados foram enviados, em caráter confidencial,
para a OACI (Organização da
Aviação Civil Internacional) e
para a Ifalpa (Federação Internacional das Associações de Pilotos de Linhas Aéreas).
E uma carta foi enviada ao
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva em 9 de novembro de
2006 para oferecer assessoria e
consultoria para auxiliar o governo na construção de um
marco institucional novo, mais
transparente e seguro.
"Esperamos que as autoridades brasileiras adotarão uma
fórmula sistêmica para melhorar a segurança dentro do sistema de aviação civil brasileira,
com base na premissa de que
operadores, individualmente
ou em grupo, são exclusivamente responsáveis por acidentes ou incidentes", diz o
texto. Não houve resposta.
Passados meses de crise e o
motim dos controladores no
último dia 30, a Ifatca fez apelos públicos sobre o risco de novos acidentes aéreos e a necessidade urgente de modificar o
sistema, que tem falhas sérias
de segurança.
O relatório foi elaborado
após a visita de três representantes da federação. Além de
auxiliar no tratamento de estresse pós-traumático dos controladores, a Aeronáutica concedeu acesso pleno aos profissionais e a parte das instalações
do Cindacta-1.
Os representantes da Ifatca
conversaram com controladores, técnicos e oficiais. Observaram os trabalhos e os equipamentos usados.
Internamente, os resultados
foram considerados "assustadores". E não foram liberados
antes devido à expectativa de
que mudanças seriam rapidamente feitas.
Inexperiência
Os controladores foram considerados muito jovens, inexperientes e mal-treinados. O
nível de inglês estava longe do
esperado e havia desconhecimento sobre procedimentos-padrão da OACI.
Foram detectados riscos na
sobrecarga e estresse dos controladores, devido ao volume
de tráfego aéreo, armadilhas do
sistema e a necessidade de
sempre ter que lidar com os
problemas técnicos, principalmente rádio e radar.
Foi constatado que há defasagem em equipamentos, além
de falta de suporte adequado.
Os técnicos que foram contatados pelos auditores também
não teriam o preparo necessário para a atividade.
A falta de sistemas para
emergências ou "backups" adequados foi destacado. Segundo
a Ifatca, não havia um telefone
independente para o caso de
perda de contato com os outros
Cindactas.
Não havia rádio de emergência independente ou um
"backup" do sistema central
para o caso de queda geral de
freqüências -o que ocorreu
com a pane do equipamento registrada dois meses depois, no
apagão de 5 dezembro.
Era esperado encontrar um
sistema alternativo para leitura
dos sinais de radar, mas só existe um. Outros mecanismos de
segurança também estavam
ausentes, como um "stand by"
independente do sistema de
planos de vôo e seu "backup".
Zona cega
A zona cega na região onde
ocorreu o acidente do vôo 1907
foi verificada, apesar de o local
estar coberto pelo radar do centro de Manaus.
Segundo a Ifatca, é relativamente simples enviar a visualização do Cindacta de Manaus
para o Cindacta de Brasília.
Esse problema já estaria sendo corrigido por meio do envio
do sinal de radar ao Cindacta-1
(Brasília), mas havia dificuldades técnicas.
O relatório não entra em detalhes sobre a questão militar,
mas comenta que a hierarquia e
peculiaridades internas de relacionamento entre Cindactas
e Comando da Aeronáutica não
permitiam o diagnóstico de
problemas e o encaminhamento de melhorias.
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