São Paulo, terça-feira, 08 de abril de 2008

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Implorei para ir junto, diz a ex-mulher de Mauricio de Sousa

Marinalva Pereira dos Santos, 39, foi libertada de cativeiro anteontem à noite, junto com os filhos, Marcelo, 9, e Vitor, 2

Para também ser levada, ela disse aos seqüestradores que Marcelo sofria do coração; menino é filho dela com Mauricio de Sousa

Lucas Lacaz Ruiz
Mauricio de Sousa com o filho Marcelo, 9, que havia sido seqüestrado; ao fundo, a mãe do menino

MAURÍCIO SIMIONATO
FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

Marinalva Pereira dos Santos, 39, ex-mulher de quadrinista Mauricio de Sousa, 72, disse que mentiu para os seqüestradores para ser levada com Marcelo, 9, filha dela e do criador da Turma da Mônica, afirmando que ele tinha um problema no coração.
Após 18 dias de seqüestro, Santos e os dois filhos, Marcelo, 9, e Vitor Hugo, 2 (de outro casamento), foram libertados pela polícia na noite de anteontem, em São Sebastião, litoral norte do Estado.
Ninguém ficou ferido na ação. A ex-mulher do quadrinista contou que os seqüestradores já chegaram à chácara de sua família em São José dos Campos, no dia 19, perguntando por Marcelo. Segundo ela, os criminosos contaram que planejaram o seqüestro do garoto por dois anos e que chegaram a cogitar um ataque ao quadrinista para fazê-lo.
Cinco homens armados invadiram um comércio vizinho à chácara e fizeram cerca de 11 reféns. Do comércio, eles tiveram acesso à chácara.
Durante o seqüestro, os três passaram por quatro cativeiros -os três primeiros em Monteiro Lobato, cidade vizinha a São José dos Campos. O cativeiro dos últimos 12 dias foi uma casa em São Sebastião.
Santos diz que o resgate inicial era de R$ 1 milhão, subiu para R$ 2 milhões e, por fim, era de R$ 800 mil. Segundo a polícia, o valor não foi pago.
Após a libertação do filho, Mauricio de Sousa o chamou de "herói". "Esse é o meu filhão.
Ele foi um heroizinho. Foi um pequeno herói, se mantendo ao lado da mãe o tempo todo. É dia de festejar, comemorar um bom trabalho executado pelos nossos amigos aqui [policiais].
Uma série de coisas deram certo para que terminasse esse pesadelo, que espero nunca mais viver", disse à TV Globo. A seguir, a entrevista de Santos:

 

FOLHA - Os seqüestradores queriam levar apenas seu filho Marcelo?
MARINALVA PEREIRA DOS SANTOS -
Sim, mas quando disseram que iam levar o menino eu entrei em desespero, e o Marcelo grudou em minhas pernas. Ele dizia: "Mamãe, pelo amor de Deus, não deixa eu ir sozinho". Comecei a implorar [para ir junto], disse ao moço que ele tinha problema de coração, que se fosse sozinho iria morrer. Mas menti. Ele não tem problema. E como o Vitor [filho dela de dois anos] estava chorando, mandaram que eu o levasse.

FOLHA - Depois disso, vocês foram levados para onde?
SANTOS -
Fomos para Monteiro Lobato. Deu para ver pelas placas, porque nos deixaram com a cabeça descoberta em parte do caminho. Ficamos por cerca de cinco horas em uma casa. Nos levaram para uma segunda [casa], onde ficamos por mais ou menos quatro dias. Depois, numa terceira, ficamos por cerca de duas horas. Depois nos levaram para a última casa.

FOLHA - Foram bem tratados?
SANTOS -
Em nenhum momento nos agrediram e ameaçaram. Só diziam que, se não desse certo, iam nos libertar.

FOLHA - Como era sua rotina?
SANTOS -
Rezava todos os dias. Sou devota de Nossa Senhora Aparecida. Na última casa, eles levaram uma TV e um [videogame] PlayStation para o Marcelo. Às vezes, quando o Vítor chorava muito, tentavam acalmá-lo, brincando ou o levando para ver os pitbulls. Eu assistia um pouco do jornal e das novelas e acabava me distraindo.

FOLHA - Como era a alimentação?
SANTOS -
Na casa de Monteiro Lobato tinha apenas miojo para comer. Davam dois miojos no almoço e dois no jantar, já prontos. Na última casa nos davam café da manhã e almoço. Nos dois primeiros dias, trouxeram marmita. Depois, levavam arroz e feijão com salsicha ou ovo. Era sempre isso. E era eu quem cozinhava. Eles davam a comida para o almoço, e só nos davam comida uma vez por dia. À noite, às vezes, como não tinha nada para comer, eu dava água com açúcar para as crianças. O Marcelo reclamava de fome, mas o Vitor não, porque eu o amamentava.

FOLHA - Qual foi o pior momento?
SANTOS -
Quando nos levaram para o litoral. A gente estava deitado no banco de trás do carro e eles entraram numa rua com muitos buracos. Pensava que iam nos jogar em um precipício ou buraco. Fiquei desesperada, e eles me acalmaram. Disseram que eu estava colaborando e que não precisava ter medo. Na viagem, consegui ver que a gente estava na Tamoios [rodovia que liga São José dos Campos ao litoral norte e passa perto da chácara]. Me deu uma alegria no coração, porque achei que iam nos libertar. Mas foram embora direto e fiquei desesperada. Ficava pensando se no outro cativeiro iam nos tratar bem como no primeiro.


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