|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Implorei para ir junto, diz a ex-mulher de Mauricio de Sousa
Marinalva Pereira dos Santos, 39, foi libertada de cativeiro anteontem à noite, junto com os filhos, Marcelo, 9, e Vitor, 2
Para também ser levada, ela disse aos seqüestradores que Marcelo sofria do coração; menino é filho dela com Mauricio de Sousa
Lucas Lacaz Ruiz
|
|
Mauricio de Sousa com o filho Marcelo, 9, que havia sido seqüestrado; ao fundo, a mãe do menino
MAURÍCIO SIMIONATO
FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
Marinalva Pereira dos Santos, 39, ex-mulher de quadrinista Mauricio de Sousa, 72,
disse que mentiu para os seqüestradores para ser levada
com Marcelo, 9, filha dela e do
criador da Turma da Mônica,
afirmando que ele tinha um
problema no coração.
Após 18 dias de seqüestro,
Santos e os dois filhos, Marcelo,
9, e Vitor Hugo, 2 (de outro casamento), foram libertados pela polícia na noite de anteontem, em São Sebastião, litoral
norte do Estado.
Ninguém ficou ferido na
ação. A ex-mulher do quadrinista contou que os seqüestradores já chegaram à chácara de
sua família em São José dos
Campos, no dia 19, perguntando por Marcelo. Segundo ela, os
criminosos contaram que planejaram o seqüestro do garoto
por dois anos e que chegaram a
cogitar um ataque ao quadrinista para fazê-lo.
Cinco homens armados invadiram um comércio vizinho à
chácara e fizeram cerca de 11
reféns. Do comércio, eles tiveram acesso à chácara.
Durante o seqüestro, os três
passaram por quatro cativeiros
-os três primeiros em Monteiro Lobato, cidade vizinha a São
José dos Campos. O cativeiro
dos últimos 12 dias foi uma casa
em São Sebastião.
Santos diz que o resgate inicial era de R$ 1 milhão, subiu
para R$ 2 milhões e, por fim,
era de R$ 800 mil. Segundo a
polícia, o valor não foi pago.
Após a libertação do filho,
Mauricio de Sousa o chamou de
"herói". "Esse é o meu filhão.
Ele foi um heroizinho. Foi um
pequeno herói, se mantendo ao
lado da mãe o tempo todo. É dia
de festejar, comemorar um
bom trabalho executado pelos
nossos amigos aqui [policiais].
Uma série de coisas deram certo para que terminasse esse pesadelo, que espero nunca mais
viver", disse à TV Globo. A seguir, a entrevista de Santos:
FOLHA - Os seqüestradores queriam levar apenas seu filho Marcelo?
MARINALVA PEREIRA DOS SANTOS -
Sim, mas quando disseram que
iam levar o menino eu entrei
em desespero, e o Marcelo grudou em minhas pernas. Ele dizia: "Mamãe, pelo amor de
Deus, não deixa eu ir sozinho".
Comecei a implorar [para ir
junto], disse ao moço que ele tinha problema de coração, que
se fosse sozinho iria morrer.
Mas menti. Ele não tem problema. E como o Vitor [filho dela
de dois anos] estava chorando,
mandaram que eu o levasse.
FOLHA - Depois disso, vocês foram
levados para onde?
SANTOS - Fomos para Monteiro Lobato. Deu para ver pelas
placas, porque nos deixaram
com a cabeça descoberta em
parte do caminho. Ficamos por
cerca de cinco horas em uma
casa. Nos levaram para uma segunda [casa], onde ficamos por
mais ou menos quatro dias. Depois, numa terceira, ficamos
por cerca de duas horas. Depois
nos levaram para a última casa.
FOLHA - Foram bem tratados?
SANTOS - Em nenhum momento nos agrediram e ameaçaram.
Só diziam que, se não desse certo, iam nos libertar.
FOLHA - Como era sua rotina?
SANTOS - Rezava todos os dias.
Sou devota de Nossa Senhora
Aparecida. Na última casa, eles
levaram uma TV e um [videogame] PlayStation para o Marcelo. Às vezes, quando o Vítor
chorava muito, tentavam acalmá-lo, brincando ou o levando
para ver os pitbulls. Eu assistia
um pouco do jornal e das novelas e acabava me distraindo.
FOLHA - Como era a alimentação?
SANTOS - Na casa de Monteiro
Lobato tinha apenas miojo para comer. Davam dois miojos
no almoço e dois no jantar, já
prontos. Na última casa nos davam café da manhã e almoço.
Nos dois primeiros dias, trouxeram marmita. Depois, levavam arroz e feijão com salsicha
ou ovo. Era sempre isso. E era
eu quem cozinhava. Eles davam a comida para o almoço, e
só nos davam comida uma vez
por dia. À noite, às vezes, como
não tinha nada para comer, eu
dava água com açúcar para as
crianças. O Marcelo reclamava
de fome, mas o Vitor não, porque eu o amamentava.
FOLHA - Qual foi o pior momento?
SANTOS - Quando nos levaram
para o litoral. A gente estava
deitado no banco de trás do carro e eles entraram numa rua
com muitos buracos. Pensava
que iam nos jogar em um precipício ou buraco. Fiquei desesperada, e eles me acalmaram.
Disseram que eu estava colaborando e que não precisava ter
medo. Na viagem, consegui ver
que a gente estava na Tamoios
[rodovia que liga São José dos
Campos ao litoral norte e passa
perto da chácara]. Me deu uma
alegria no coração, porque
achei que iam nos libertar. Mas
foram embora direto e fiquei
desesperada. Ficava pensando
se no outro cativeiro iam nos
tratar bem como no primeiro.
Texto Anterior: Grifes de luxo marcam bazar com bens de megatraficante Próximo Texto: Prisão de foragido levou a cativeiro no litoral de SP Índice
|