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Favela murada é "condomínio", diz secretária
Para Marilene Ramos, titular da pasta do Ambiente do Rio, é "natural" cercar comunidades com muro
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
A secretária estadual do Ambiente do Rio, Marilene Ramos,
afirma que o plano de cercar 11
favelas na capital a fim de, oficialmente, proteger a mata deixará os moradores desses locais
nas mesmas condições daqueles que vivem num condomínio. "É natural que seja cercado
por um muro de três metros."
Nesta entrevista à Folha, ela
defende o projeto, que já recebeu críticas de ambientalistas,
cientistas sociais e até do escritor português José Saramago.
FOLHA - Como foram escolhidas as
favelas a serem cercadas?
MARILENE RAMOS - Foi questão
de oportunidade. Na Rocinha
[que será murada] há o PAC
(Programa de Aceleração do
Crescimento). Nas ocupações
que avançaram na mata e ainda
estão rarefeitas, poderemos reverter o processo [retirada das
famílias]. Vamos ter redução de
8% da área ocupada ali [na Rocinha]. No Dona Marta, decidimos [murar] após a ocupação
policial. Lá tem uma área de risco com cerca de 50 famílias. A
ideia é retirá-las e, para evitar
reocupação, construir o muro.
FOLHA - Segundo o Instituto Pereira Passos (IPP), as 11 favelas escolhidas cresceram abaixo da média. No
Dona Marta, houve queda. Por que
elas serão muradas?
MARILENE - Os muros são para a
redução da área das favelas, não
são só para impedir que cresçam. Além do muro de concreto, vamos fazer um "virtual":
um sistema de monitoramento
com imagens de satélite para
fiscalizar áreas muradas ou
não. O IPP não tem instrumento para avaliar corretamente.
FOLHA - Monitoramento e fiscalização não bastariam?
MARILENE - Como são áreas em
que estamos retirando ocupações e onde há um investimento grande sendo feito, pode não
ser suficiente.
FOLHA - Como a sra. vê críticas de
que o muro exclui a favela?
MARILENE - Não existe dentro
da comunidade uma avaliação
negativa. A maioria considera
um delimitador importante para ajudá-los a controlar. Quando a ocupação avança, aumenta
o risco para os que já estão lá.
FOLHA - Por que só nas favelas da
zona sul, se na oeste elas cresceram
mais proporcionalmente?
MARILENE - Muros são para problemas específicos, localizados,
não são solução geral.
FOLHA - Por que três metros?
MARILENE - Qualquer terreno é
cercado por muro de três metros de altura. Você mora num
condomínio com muro de três
metros. Uma comunidade como aquela é um condomínio. É
natural que ele seja cercado por
um muro de três metros.
FOLHA - Ambientalistas dizem que
melhor seria conscientizar a população a não invadir.
MARILENE - Tiramos 200 t de lixo por mês dos rios que cortam
áreas com coleta de lixo diária.
A gente faz educação ambiental, mas não se muda uma geração que conviveu com o desmando de um dia para o outro.
Presidentes das associações falam: "Quem invadiu foi um parente de traficante. Não posso
ir falar". É difícil, numa situação em que há forças usando
[fuzil] AR-15, trabalhar só com
educação ambiental. Só [o líder
indiano Mahatma] Gandhi.
FOLHA - Com essa força, não seria
difícil destruir um muro.
MARILENE - Não que não vá
abrir um buraco, [usar] uma escada. Mas sinaliza à comunidade que o limite é ali.
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