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Urbanização inacabada de favela agravou tragédia no RJ
Comunidades sofrem com má conservação de obras e com falhas na coleta de lixo
Programa Favela-Bairro, iniciado em 1994 e tido como modelo pelo ONU, já urbanizou 143 favelas a
um custo de R$ 1,1 bilhão
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
Falhas na coleta de lixo, planejamento e manutenção de
obras fizeram com que a urbanização de favelas não evitasse
as mortes ocorridas em decorrência das chuvas no Rio.
Todas as favelas em que houve mortes foram urbanizadas
pelo programa Favela-Bairro,
iniciativa elogiada internacionalmente. Mas houve retenções, por parte da prefeitura, na
verba de obras para manter e
aperfeiçoar o programa.
No morro dos Prazeres, onde
22 pessoas morreram, houve
retenção de R$ 2,6 bilhões em
complemento à urbanização
feita em 2005 e até hoje não foi
concluído. As obras, previstas
para conclusão em 2006, incluíam contenção de encostas.
O BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) foi informado de que, no Borel -onde houve três mortes-, casas
desocupadas não foram demolidas, atraindo mais moradores.
Procurado, o ex-prefeito Cesar Maia disse que 15% do total
do Favela-Bairro foi investido
em contenção de encostas. Ele,
porém, não falou sobre retenção de gastos. A Secretaria Municipal de Habitação também
não quis comentar a contenção
de gastos com o projeto.
O programa Favela-Bairro,
considerado modelo pela ONU,
urbanizou 143 favelas do Rio.
Com financiamento do BID, o
projeto iniciado em 1994 custou US$ 600 milhões (R$ 1,1 bilhão) e beneficiou mais de 500
mil pessoas, diz a prefeitura.
Falhas
Segundo especialistas, o projeto falhou na manutenção das
melhorias feitas nas comunidades. A coleta de lixo, por exemplo, é feita por garis comunitários sem vínculo com a Prefeitura do Rio. As redes de drenagem não recebem manutenção
com frequência.
Para o urbanista Sérgio Magalhães, ex-secretário de Habitação, o poder público, em alguns casos, abandona as favelas
urbanizadas por falta de verbas.
"Com o Favela-Bairro, houve
aumento de 17% no número de
pessoas que precisavam ser
atendidas pela coleta de lixo. É
um custo a mais sem ter alta
correspondente na receita."
As mortes ocorridas em favelas do Rio e Niterói reeditaram
a discussão sobre remoções de
moradores das comunidades. O
prefeito Eduardo Paes e o governador Sérgio Cabral Filho
defenderam a retirada de cerca
de 13 mil famílias que vivem em
áreas de risco em toda cidade.
O fundador do Observatório
de Favelas, Jaílson de Souza e
Silva, afirma que o discurso
usado pode "generalizar dizendo que basta morar em morro
para estar em área de risco".
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