São Paulo, quarta-feira, 08 de maio de 2002

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URBANIDADE

Calçada democrática

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

Cartão-postal de São Paulo, a avenida Paulista está prestes a lançar uma inovação urbanística: a calçada democrática, decorada segundo a decisão, por eleição direta, de seus frequentadores.
Num acerto com a prefeita Marta Suplicy, a entidade Paulista Viva prepara a seleção de vários modelos de calçamento a serem expostos, provavelmente, no vão do Masp, ao lado de uma urna para colher os votos. Há também a proposta de uma votação pela internet.
"Quando eu era garoto, a Paulista significava festa. No Carnaval, meu pai me levava para desfilar no corso", relembra Nelson Baeta Neves, de 70 anos, diretor do Paulista Viva. Naqueles tempos, a elite promovia piqueniques no parque Trianon, os casarões estavam ocupados pela aristocracia do café, o bonde passava pela avenida e as calçadas estavam repletas de folhas dos ipês-amarelos.
Baeta está triste com o cenário atual. "É um horror, é como se rasgassem um cartão-postal. As calçadas, esburacadas, viraram uma colcha de retalhos." Só não estão piores porque crianças que estudam nas redondezas, especialmente na escola Rodrigues Alves, orientadas por artistas plásticos, preencheram os buracos com peças de azulejos, formando uma trilha.
"Simbolicamente, a avenida Paulista está para a cidade como o Cristo Redentor está para o Rio, a estátua da Liberdade, para Nova York, ou a torre Eiffel, para Paris", compara Baeta.
O problema é que, por causa dos carros-fortes e do fluxo intenso de automóveis que entram e saem dos prédios, as calçadas são massacradas. É uma paisagem de degradação, que se complementa com os ambulantes, os assaltos e o abandono dos canteiros. Não é por acaso que um ponto na Luiz Carlos Berrini vale 40% mais do que na Paulista.
O projeto de reforma era bem mais ambicioso do que apenas a calçada. Em 1996, fez-se um badalado concurso para a escolha da melhor idéia de reforma de toda a avenida. O vencedor ganhou, na época, o equivalente a R$ 150 mil. O plano nunca saiu do papel. A calçada é apenas uma obra emergencial. Mas, pelo menos, um detalhe vai trazer a lembrança dos velhos tempos de glória e elegância. A secretária municipal do Meio Ambiente, Stela Goldenstein, dispôs-se a plantar ipês-amarelos em todos os canteiros, devolvendo àquele espaço seu símbolo natural.

E-mail - gdimen@uol.com.br



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