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URBANIDADE
Calçada democrática
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
Cartão-postal de São
Paulo, a avenida Paulista
está prestes a lançar uma inovação urbanística: a calçada democrática, decorada segundo a
decisão, por eleição direta, de
seus frequentadores.
Num acerto com a prefeita
Marta Suplicy, a entidade Paulista Viva prepara a seleção de
vários modelos de calçamento a
serem expostos, provavelmente,
no vão do Masp, ao lado de uma
urna para colher os votos. Há
também a proposta de uma votação pela internet.
"Quando eu era garoto, a Paulista significava festa. No Carnaval, meu pai me levava para desfilar no corso", relembra Nelson
Baeta Neves, de 70 anos, diretor
do Paulista Viva. Naqueles tempos, a elite promovia piqueniques no parque Trianon, os casarões estavam ocupados pela
aristocracia do café, o bonde
passava pela avenida e as calçadas estavam repletas de folhas
dos ipês-amarelos.
Baeta está triste com o cenário
atual. "É um horror, é como se
rasgassem um cartão-postal. As
calçadas, esburacadas, viraram
uma colcha de retalhos." Só não
estão piores porque crianças que
estudam nas redondezas, especialmente na escola Rodrigues
Alves, orientadas por artistas
plásticos, preencheram os buracos com peças de azulejos, formando uma trilha.
"Simbolicamente, a avenida
Paulista está para a cidade como
o Cristo Redentor está para o
Rio, a estátua da Liberdade, para Nova York, ou a torre Eiffel,
para Paris", compara Baeta.
O problema é que, por causa
dos carros-fortes e do fluxo intenso de automóveis que entram
e saem dos prédios, as calçadas
são massacradas. É uma paisagem de degradação, que se complementa com os ambulantes, os
assaltos e o abandono dos canteiros. Não é por acaso que um
ponto na Luiz Carlos Berrini vale 40% mais do que na Paulista.
O projeto de reforma era bem
mais ambicioso do que apenas a
calçada. Em 1996, fez-se um badalado concurso para a escolha
da melhor idéia de reforma de
toda a avenida. O vencedor ganhou, na época, o equivalente a
R$ 150 mil. O plano nunca saiu
do papel. A calçada é apenas
uma obra emergencial. Mas, pelo menos, um detalhe vai trazer
a lembrança dos velhos tempos
de glória e elegância. A secretária municipal do Meio Ambiente, Stela Goldenstein, dispôs-se a
plantar ipês-amarelos em todos
os canteiros, devolvendo àquele
espaço seu símbolo natural.
E-mail - gdimen@uol.com.br
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