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São Paulo, quinta-feira, 08 de maio de 2003

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DESIGUALDADE

Aulas devem começar em fevereiro de 2004

ONG anuncia criação de faculdade com maioria de alunos negros em SP

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Se a questão de cotas para negros na universidade já era polêmica, imagine uma situação "oposta": uma faculdade onde os negros serão maioria e os brancos é que se submeterão a critérios especiais para serem admitidos.
A Faculdade da Cidadania Zumbi dos Palmares, uma das poucas no mundo com essa proposta, será anunciada na próxima terça-feira, dia 13, data em que oficialmente se comemora a libertação dos escravos no país.
O vestibular está previsto para dezembro e as aulas para os 400 alunos em administração serão iniciadas em fevereiro. Em quatro anos, a escola prevê a criação de outros cursos em humanas e exatas, já com o nome de Universidade Zumbi dos Palmares.
A mantenedora da escola é o Instituto Afrobrasileiro de Ensino Superior, que, por sua vez, foi criado pela ONG Afrobras, Sociedade Afrobrasileira de Desenvolvimento Sócio Cultural.
A Secretaria de Ensino Superior do MEC confirmou que a instituição está credenciada e seus cursos reconhecidos.
Inicialmente, a escola funcionará no antigo fórum de São Bernardo do Campo, prédio cedido pelo Estado. Segundo a ONG, já estaria em negociação um terreno na capital para a construção do futuro campus.
Na entrevista coletiva da terça, José Vicente, presidente do instituto e reitor da nova faculdade, informará os critérios de seleção, o valor das mensalidades, a proporção entre negros e brancos e os parâmetros para se definir quem é negro e quem é branco.

Coca-Cola
Vicente se encontrava ontem em Atlanta (EUA) acertando detalhes do apoio que o instituto deverá receber da Fundação Coca-Cola, anunciada como uma das principais parceiras no projeto. Segundo informações divulgadas pela Afrobras, a faculdade será a primeira "que visa a inclusão de pessoas menos favorecidas economicamente no ensino superior de qualidade, alicerçada na formação humanística do profissional, levando em consideração a isonomia e a equidade".
A ONG lembra que os negros são menos de 2% nas escolas de ensino superior do país.
Em março do ano passado, a Afrobras anunciou a criação do instituto e a abertura de um curso este ano em que os negros ocupariam 40% das vagas, o que não ocorreu. Segundo a assessoria da ONG, os prazos foram estendidos e as propostas ampliadas, optando-se pela criação de uma faculdade com maioria negra.

"Incluir" e "integrar"
Os valores investidos ainda não foram informados. Segundo a Afrobras, além da Fundação Coca-Cola, há cerca de 15 instituições parceiras, entre elas seis universidades privadas, a Associação Alumni e três outras instituições internacionais.
Segundo a ONG, os custos serão reduzidos graças à contribuição de empresas e de universidades parceiras, que cederão professores. Oficialmente, a missão da faculdade é pomposa: "incluir o afrodescendente no ensino superior, viabilizando a integração de negros e não-negros em ambiente favorável à discussão da diversidade social, no contexto da realidade nacional e internacional".


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