São Paulo, domingo, 08 de maio de 2005

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RETRATO DO BRASIL

Média cai de R$ 423 para R$ 273 para quem não consegue vaga para os filhos na educação infantil

Uso de creche faz renda da mãe subir 55%

DA SUCURSAL DO RIO

No Dia das Mães, um número significativo de mulheres no Brasil gostaria de um presente do Estado: mais vagas em creches e pré-escolas. O estudo da socióloga Bila Sorj para a OIT mostra que mães que conseguiram uma vaga para seus filhos numa dessas escolas de educação infantil tinham renda 55% maior.
A renda média de mães cujos filhos estão matriculados em creches ou pré-escolas é de R$ 423. Entre as mães que não tiveram essa oportunidade, a renda cai para R$ 273, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE de 2001.
A necessidade de ampliar a oferta de vagas para a população de zero a seis anos voltou à pauta do Senado há duas semanas com a aprovação da uma Proposta de Emenda à Constituição da senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) que, se aprovada também pela Câmara, obrigará o poder público a oferecer esse serviço.
O Brasil tem uma meta a cumprir nessa área que foi estipulada em 2001 pelo Congresso, quando foi aprovado o PNE (Plano Nacional de Educação). Em alguns tópicos, no entanto, o país está muito distante do objetivo. Tabulação feita pelas pesquisadoras Lena Lavinas (UFRJ) e Sulamis Dain (Uerj) mostra que apenas 37% das crianças de zero a seis anos estão em creches ou pré-escolas.
Quando se analisa apenas a freqüência à creche (para faixa etária de zero a três anos), os dados mostram que nem entre as mães mais ricas já teríamos atingindo essas metas. A proposta é ter ao menos 30% das crianças de zero a três anos em creches até 2006 e 50% até 2011.
Em 2003, no entanto, essa porcentagem era de apenas 12% e, mesmo entre as famílias que estão entre as 10% mais ricas do país, só 27% estão em creches. No outro extremo, de famílias que estão entre as 10% mais pobres, a freqüência era de apenas 7%.
Para Sorj, o debate público sobre a necessidade de ampliar o acesso à educação infantil não deve ser focado apenas nos benefícios que a escola traz às crianças.
"A creche aumenta a possibilidade de escolha das mães ao mesmo tempo em que beneficia a criança, mas o debate político separou essas duas coisas", diz ela.
Para a economista Lena Lavinas, o acesso à creche e à pré-escola deve ser visto também como uma política social de combate à pobreza. "Precisamos pensar em incentivos para que os municípios [responsáveis diretos pela educação infantil] tenham condições de prover mais vagas. Ao colocar os filhos em creche ou pré-escola, muitas mães teriam condições de sair de outros programas e fariam com que o investimento social fosse mais benéfico do que a simples transferência de renda."

Profissão, mãe
As mães que moram no morro dos Cabritos, em Copacabana (zona sul do Rio), sabem muito bem a diferença que uma creche faz no orçamento. Na comunidade, a necessidade de ter alguém para cuidar dos filhos enquanto a mãe trabalha criou um mercado muito comum em favelas e bairros pobres: mães que cobram para cuidar dos filhos dos outros enquanto as vizinhas trabalham.
É por isso que Renata Borges, 28, agradece todo dia o fato de ter conseguido uma vaga para seu filho Richard, 2, na creche Tia Sônia Crispiniano, parceria da prefeitura com a ONG Obra Social. "Sem essa vaga, eu estaria pagando R$ 10 por dia para alguém cuidar do meu filho e eu poder trabalhar", conta ela, que ganha R$ 485 por mês. (ANTÔNIO GOIS)

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