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RETRATO DO BRASIL
Média cai de R$ 423 para R$ 273 para quem não consegue vaga para os filhos na educação infantil
Uso de creche faz renda da mãe subir 55%
DA SUCURSAL DO RIO
No Dia das Mães, um número
significativo de mulheres no Brasil gostaria de um presente do Estado: mais vagas em creches e pré-escolas. O estudo da socióloga Bila Sorj para a OIT mostra que
mães que conseguiram uma vaga
para seus filhos numa dessas escolas de educação infantil tinham
renda 55% maior.
A renda média de mães cujos filhos estão matriculados em creches ou pré-escolas é de R$ 423.
Entre as mães que não tiveram essa oportunidade, a renda cai para
R$ 273, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE de 2001.
A necessidade de ampliar a
oferta de vagas para a população
de zero a seis anos voltou à pauta
do Senado há duas semanas com
a aprovação da uma Proposta de
Emenda à Constituição da senadora Heloísa Helena (PSOL-AL)
que, se aprovada também pela
Câmara, obrigará o poder público
a oferecer esse serviço.
O Brasil tem uma meta a cumprir nessa área que foi estipulada
em 2001 pelo Congresso, quando
foi aprovado o PNE (Plano Nacional de Educação). Em alguns tópicos, no entanto, o país está muito
distante do objetivo. Tabulação
feita pelas pesquisadoras Lena Lavinas (UFRJ) e Sulamis Dain
(Uerj) mostra que apenas 37%
das crianças de zero a seis anos estão em creches ou pré-escolas.
Quando se analisa apenas a freqüência à creche (para faixa etária
de zero a três anos), os dados
mostram que nem entre as mães
mais ricas já teríamos atingindo
essas metas. A proposta é ter ao
menos 30% das crianças de zero a
três anos em creches até 2006 e
50% até 2011.
Em 2003, no entanto, essa porcentagem era de apenas 12% e,
mesmo entre as famílias que estão
entre as 10% mais ricas do país, só
27% estão em creches. No outro
extremo, de famílias que estão entre as 10% mais pobres, a freqüência era de apenas 7%.
Para Sorj, o debate público sobre a necessidade de ampliar o
acesso à educação infantil não deve ser focado apenas nos benefícios que a escola traz às crianças.
"A creche aumenta a possibilidade de escolha das mães ao mesmo tempo em que beneficia a
criança, mas o debate político separou essas duas coisas", diz ela.
Para a economista Lena Lavinas, o acesso à creche e à pré-escola deve ser visto também como
uma política social de combate à
pobreza. "Precisamos pensar em
incentivos para que os municípios [responsáveis diretos pela
educação infantil] tenham condições de prover mais vagas. Ao colocar os filhos em creche ou pré-escola, muitas mães teriam condições de sair de outros programas
e fariam com que o investimento
social fosse mais benéfico do que
a simples transferência de renda."
Profissão, mãe
As mães que moram no morro
dos Cabritos, em Copacabana
(zona sul do Rio), sabem muito
bem a diferença que uma creche
faz no orçamento. Na comunidade, a necessidade de ter alguém
para cuidar dos filhos enquanto a
mãe trabalha criou um mercado
muito comum em favelas e bairros pobres: mães que cobram para cuidar dos filhos dos outros enquanto as vizinhas trabalham.
É por isso que Renata Borges,
28, agradece todo dia o fato de ter
conseguido uma vaga para seu filho Richard, 2, na creche Tia Sônia Crispiniano, parceria da prefeitura com a ONG Obra Social.
"Sem essa vaga, eu estaria pagando R$ 10 por dia para alguém cuidar do meu filho e eu poder trabalhar", conta ela, que ganha R$ 485
por mês.
(ANTÔNIO GOIS)
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