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AMBIENTE
Local que abastece 3,5 milhões perdeu 21% de seu reservatório de água, principalmente para favelas e loteamentos
Até carvoaria destrói represa Guarapiranga
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
O cenário não é nada otimista:
um estudo sobre a bacia da Guarapiranga, que abastece 3,5 milhões de pessoas da Grande São
Paulo, revela que de 1989 a 2003
ela perdeu 21% da área de reservatório de água e 3,13% de cobertura
vegetal. A ocupação urbana, em
grande parte feita por loteamentos irregulares e favelas, cresceu
1.440 hectares em 14 anos (17,9%).
O trabalho mostra ainda problemas atuais que prejudicam a
área de manancial, como carvoarias ilegais que utilizam árvores
da mata atlântica para a produção. Os fornos ficam escondidos
em morros de difícil acesso e ao
seu redor existem clareiras.
A partir de denúncias feitas pelo
ISA (Instituto Socioambiental),
autor do estudo, uma das carvoarias existentes teve dez fornos destruídos em Embu-Guaçu. Foi feita
uma operação conjunta entre a
prefeitura local e a Polícia Ambiental na última quarta-feira.
Segundo a coordenadora de
Mananciais do ISA, Marussia
Wathely, o estudo mostra que
60% da bacia já foi alterada pelo
homem. Em 2003, a maior parte
da área estava ocupada por "usos
antrópicos" -referentes à ação
humana sobre a natureza, como
atividades de pastagens, agricultura e mineração. Depois de aberto o terreno para esses usos, a ocupação urbana pode ser realizada
mais facilmente.
"A diminuição da área ocupada
pela água, que indica um assoreamento, é bastante preocupante.
Fica uma folga muito pequena entre o que se produz e o que se consome de água", afirmou.
Outro problema diz respeito à
chegada da cidade à represa, apesar de o perfil da ocupação urbana
ter mudado ao longo dos anos.
"Antes, criavam-se grandes loteamentos irregulares vinculados
aos movimentos de moradia. Hoje, os núcleos menores estão se
adensando de forma totalmente
desordenada", disse. Isso dificulta
a implantação de infra-estrutura,
como rede de esgoto, e equipamentos sociais -postos de saúde
e escolas, por exemplo.
Os dados foram apresentados
ao secretário de Estado do Meio
Ambiente, José Goldemberg, na
segunda-feira passada. Outras denúncias feitas pelo ISA na ocasião
tratavam da atividade de carvoaria perto do parque ecológico
Guarapiranga e de uma área com
movimentação de terra e depósito
de lixo não-orgânico nas margens
dos cursos de água na várzea do
rio Embu-Mirim (o que pode causar assoreamento no local).
"Deve-se refletir sobre como as
atividades econômicas podem
ocorrer na área sem comprometer o quadro já grave", diz Marussia. Ela lembra que há quatro anos
uma lei específica para a Guarapiranga é discutida na Assembléia
Legislativa, sem conclusão.
Em sua opinião, a responsabilidade deve ser compartilhada entre todos os municípios da bacia.
"Ações isoladas não resolverão."
O assessor da diretoria metropolitana da Sabesp, Ricardo
Araújo, 50, concorda que não
existe solução simples. "O reservatório é abraçado por uma ocupação urbana muito caracterizada pela economia informal, baixa
renda e dependência de ações governamentais. Não conhecemos
no mundo situação semelhante."
De acordo com ele, deveria-se
criar infra-estrutura, impedir novas ocupações e investir na sofisticação tecnológica do tratamento
de água. Araújo afirmou ainda
que o problema maior não é a
quantidade da água na Guarapiranga, mas a qualidade.
"Todo tipo de detrito que a cidade produz é levado para o reservatório: esgoto, lixo, sedimentos, poeira. Tudo isso tem um impacto na qualidade." E, quanto
maior a poluição, maior é o gasto
para tratamento.
Ele tem uma versão para o aumento da ocupação. "O mercado
imobiliário e a verticalização estão crescendo na marginal Pinheiros e na [av. Engenheiro Luís
Carlos] Berrini, vizinhas à bacia.
Pessoas que trabalham como vigias, recepcionistas e domésticas
nessas áreas cruzam o espigão e
moram na Guarapiranga."
Goldemberg afirmou que o Estado e a prefeitura negociam criar
um decreto em conjunto para
proteger os mananciais.
O estudo, chamado de Diagnóstico Socioambiental Participativo,
deve ser publicado em junho.
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