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Ministério critica "epidemia" de ações por remédio
Pasta considera importante o inquérito que apura possível atuação de fabricantes no financiamento de ONGs que fazem solicitações à Justiça
CLÁUDIA COLLUCCI
MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O país vive uma "epidemia"
de decisões judiciais que obrigam os governos estaduais e federal a fornecer remédios de alto custo que não são pagos pelos SUS (Sistema Único de Saúde). A maioria das ações é proposta por associações de pacientes e há indícios de que laboratórios farmacêuticos estejam por trás dessas iniciativas.
A afirmação é do secretário
de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério
da Saúde, Reinaldo Guimarães,
que considera importante a investigação da polícia de São
Paulo para apurar possível participação de laboratórios internacionais no financiamento de
ONGs de pacientes para aumentar a venda de remédios.
Revelado ontem pela Folha,
o inquérito policial corre na 3ª
Delegacia Seccional (Oeste) de
São Paulo, foi iniciado no fim
de 2007 e ainda não foi concluído. A polícia solicitou mais
prazo para as investigações.
Segundo Guimarães, a "epidemia" de ações judiciais ocorre em todo país por falta de regulamentação do conceito "integralidade da saúde". As ações
judiciais que obrigam o fornecimento de medicamentos são
baseadas no preceito constitucional de universalidade, eqüidade e integralidade do SUS.
"Isso não existe em nenhum
lugar do mundo. A integralidade tem que respeitar critérios
científicos: medicamentos têm
que ser prescritos para determinadas doenças, em determinadas condições, por determinados meios que sejam comprovados cientificamente."
Segundo ele, há demandas
judiciais que obrigam a oferta
de remédios de alto custo que
não têm registros no país. "O
ministério não pretende acabar com o direito do cidadão ir
à Justiça requerer um direito
seu, mas precisamos acabar
com essa epidemia que fez com
que o SUS gastasse R$ 500 milhões em 2007 [com o cumprimento das ações]."
Outras instâncias governamentais também se queixam. O
presidente do Conasems (Conselho Nacional das Secretarias
Municipais de Saúde), Helvécio Miranda, diz que as cidades
têm sido "progressivamente vítimas" de ordens judiciais e
que há municípios pequenos
em que toda a verba repassada
pelo ministério é usada na
compra de remédio para uma
pessoa. "Temos indícios de que
essa é uma prática freqüente,
fazendo essa triangulação laboratórios, pacientes ou ONGs, e
advogados e médicos", afirma.
O secretário de Saúde do Rio
Grande do Sul e presidente do
Conselho Nacional de Secretários de Saúde, Osmar Terra, diz
que 40% do orçamento de sua
pasta é usado para tratar 0,3%
da população. Os dois secretários dizem esperar a aprovação
de um projeto de lei do senador
Tião Viana (PT-AC), que determina regras para a concessão
de remédios pelo SUS.
Colaborou LUÍS KAWAGUTI, da Reportagem
Local
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