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MEIO AMBIENTE
Restos da produção de 40 empresas foram depositados ilegalmente na zona rural de duas cidades de Minas
Justiça dá prazo à Fiat para retirar lixo
THOMAS TRAUMANN
DA REPORTAGEM LOCAL
RANIER BRAGON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
A Justiça de Minas Gerais (MG)
deu prazo de cinco dias para que a
Fiat e duas de suas fornecedoras, a
Formitap e a Interni, apresentem
plano de retirada das sobras industriais depositadas ilegalmente
na zona rural de Formiga.
O juiz Wauner Batista Ferreira
Machado, da 2ª Vara Cível de Formiga (208 km de Belo Horizonte),
concedeu liminar à ação civil pública proposta pelo promotor de
Justiça Lindolfo Barbosa Lima.
O lixo automotivo -cerca de
1.500 toneladas- jogado em voçorocas (erosões gigantescas) é
composto por fibras de vidro, espuma, cola e ligas metálicas. O
material, com o tempo, contamina o solo e os lençóis freáticos.
Parte do lixo foi despejada próximo ao rio Formiga, que abastece a
cidade de 60 mil habitantes.
As duas fornecedoras da Fiat e
uma terceira, a Standart, foram
multadas em R$ 250 mil, mas a
punição final pode passar de R$ 1
milhão. Elas são fabricantes de revestimento de portas, pisos e tetos
de carros da montadora.
A decisão judicial determina
ainda que o Ibama e a Feam (Fundação Estadual do Meio Ambiente de Minas Gerais) aprovem o
plano de retirada, em cinco dias,
após sua apresentação.
O prazo dado pela Justiça começa a valer após a notificação das
empresas, o que deve ocorrer na
próxima semana. A multa, em caso de descumprimento, foi fixada
em R$ 10 mil ao dia.
Além da Fiat, Alcan, Goodyear e
Ultrafértil serão processadas por
crime ambiental. No total, são 40
empresas acusadas pelo Ministério Público de enterrar e vender
ilegalmente milhares de toneladas
de sobras da produção de carros,
vidros, embalagens plásticas e de
papel, resíduos químicos e emborrachados, entre outras sucatas
industriais despejadas em cidades
do interior de Minas Gerais.
Esse é o processo ambiental
mais complexo do país. As indústrias reconhecem que são restos
de produção encontradas nas zonas rurais das cidades de Formiga
e Córrego Fundo, mas dizem que
eles foram desviados por fornecedores e empresas terceirizadas.
De acordo com as investigações
do Ministério Público, no mínimo, essas empresas serão denunciadas como co-autoras.
De acordo com a Lei de Crimes
Ambientais, as multas podem
passar de R$ 20 milhões.
"Grandes empresas não podem
fugir da responsabilidade apenas
porque contrataram alguém para
se livrar do seu lixo. Elas são responsáveis por todo o processo industrial", afirmou o promotor de
Justiça de Formiga, Lindolfo Barbosa Lima.
A maior parte do lixo foi vendida a pequenas usinas de cal do
centro-oeste mineiro que ilegalmente queimam o material no seu
processo de produção.
Existem notas fiscais comprovando a compra do lixo.
Dos seis exames preliminares
de amostras de cinzas das usinas
de cal de Formiga, um apresentou
contaminação de dioxinas (subproduto de processos industriais
com uso de cloro), segundo testes
do CGEQ, laboratório especializado da Petrobrás. No total, serão
feitos exames de 40 amostras das
cinzas e do solo.
Para o engenheiro químico
Marcelo Furtado, coordenador da
campanha internacional de substâncias tóxicas da organização
Greenpeace, o risco de contaminação na região é grande.
"Durante oito anos, a fumaça e a
cinza originárias da queima de
borracha, plástico e tubos de pvc
ficaram espalhadas. Isso não
ocorre sem consequências."
Foram investigações do Greenpeace que levaram o Ministério
Público aos donos de usina de cal.
Também serão pedidos exames
sobre a qualidade da carne e do
leite produzidos na região. Os testes feitos no rio Formiga, que
abastece a região, não apresentaram contaminação.
Não existem indicativos confiáveis de que o lixo tenho provocado problemas de saúde entre os
moradores da região.
As zonas rurais de Formiga e
Córrego Fundo e Arcos são depósitos ilegais de lixo industrial há,
no mínimo, oito anos. As investigações dos órgãos ambientais começaram em 99.
Em setembro, técnicos da Feam
e do Ibama (Instituto Brasileiro
do Meio ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis) comprovaram que três fornecedoras da
montadora Fiat enterraram em
Formiga 1.500 toneladas de fibras
de vidro, espuma e estruturas metálicas jogadas em voçorocas
(erosões gigantes).
Em maio, descobriu-se que essa
sucata era apenas a parte mais visível do crime ambiental. A maior
parte do lixo já havia sido queimada e usada como combustível
nos fornos de cal. Posteriomente,
as cinzas eram usadas como fertilizante para os pastos de gado.
Depois da descoberta da queima do lixo, dois donos de usinas
de cal foram presos e dez dessas
empresas foram fechadas.
Pressionadas pelas investigações, os caeiros entregaram ao
Ministério Público 130 notas fiscais de compra de "refugo" com
carimbos das Receitas Estaduais
mineira e paulista.
A maior parte das notas são de
fornecedoras da Fiat e da Alcan.
Entre as 40 empresas citadas no
processo, 35 são paulistas. Em alguns casos, o lixo foi transportado
por quase 1000 quilômetros para
ser despejado no interior de Minas Gerais.
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