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AMBIENTE
Vegetação que fica nas margens é fundamental para manter a qualidade e a quantidade de água para abastecimento
SP precisa reviver 120 mil km de beira de rios
MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL
Os paulistas precisam de quase
sete novas cidades de São Paulo
em área de matas ciliares -vegetação nas margens de rios, fundamental para garantir a quantidade e a qualidade da água.
A porção devastada desse tipo
de floresta no Estado -10 mil
km2- corresponde a cerca de
70% do que havia originalmente.
O tamanho do problema se reflete
nos números por trás dele. São
120 mil km de margens de rios
"depenadas" (quase três vezes a
circunferência da Terra), cuja recuperação exige 2 bilhões de mudas, a um custo estimado em US$
1 bilhão (ou quase R$ 3,2 bilhões).
A situação é pior nas regiões
norte e oeste. Cinco bacias hidrográficas (que englobam grandes
rios, seus formadores e represas)
são prioritárias pelo maior grau
de devastação: as dos rios Paraíba
do Sul (no Vale do Paraíba); Piracicaba, Capivari e Jundiaí (que
atende a região de Campinas e
forma o sistema Cantareira, principal fonte de abastecimento da
Grande São Paulo); Aguapeí; Mogi Guaçu e Tietê/Jacaré.
As matas ciliares não têm esse
nome em vão. Sua função em relação aos cursos de água é muito
parecida com a dos cílios para os
olhos: defesa. Proteção contra assoreamento do solo e agrotóxicos,
filtragem da água das chuvas,
além da regularização da vazão
(evitando cheias e secas) e formação de corredores de fauna.
A sua devastação é um dos alertas do primeiro Relatório de Qualidade Ambiental do Estado de
São Paulo, lançado hoje pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) e ao qual a Folha
teve acesso. Ainda que, no geral, o
documento aponte progressos,
dados como esse revelam os prejuízos da herança de práticas econômicas despreocupadas com o
ambiente e de novas pressões, as
quais ameaçam áreas que deveriam, por leis naturais e criadas
pelo governo, ser protegidas.
O Código Florestal obriga a preservação permanente da faixa
que, desde a máxima margem de
cada curso de água, vai de 30 m a
200 m, dependendo da largura.
Causas e soluções
As tradições agrícolas do Estado
de São Paulo, de desmatar para
plantar e de buscar terras o mais
próximas possíveis dos cursos de
água, se enquadram na categoria
de causas históricas da destruição
das matas ciliares, diz Lucia Sena,
coordenadora de Planejamento
Ambiental Estratégico e Educação Ambiental da Sema.
Mais atual, a exploração imobiliária das margens das represas
-amparada por prefeituras que
vêem na urbanização uma fonte
de arrecadação tributária e, algumas vezes, pelos órgãos ambientais- é uma preocupação relatada por diversos comitês de bacia
(órgãos que reúnem Estado, municípios e sociedade organizada),
diz Helena Carrascosa, coordenadora do Programa de Recuperação de Matas Ciliares da Sema.
O primeiro passo na direção de
recuperar a floresta perdida é
uma verba de R$ 7 milhões, que a
secretaria busca no GEF (fundo
mantido por países desenvolvidos para bancar projetos que ataquem problemas globais).
O dinheiro, que pode chegar em
2005, servirá para projetos-piloto
de reflorestamento, aprofundamento da busca de soluções e
criação de um sistema que oriente
todas as iniciativas pontuais de
plantio tocadas por órgãos públicos, privados e ONGs no Estado.
"Se tivesse qualquer recurso para
reflorestamento, priorizaria áreas
de matas ciliares pelos benefícios
que elas trazem", diz Carrascosa.
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