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Tiroteio fere 17 crianças dentro de escola no Rio
Suposto confronto entre traficantes e PMs levou pânico a alunos e professores
Oito dos 306 estudantes da escola municipal foram levados para o hospital; cinco, que foram baleados, passaram por cirurgias
RAPHAEL GOMIDE
TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO
ITALO NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
Quando as mães chegaram
ontem à escola municipal Henrique Foréis, no morro da Fazendinha (complexo do Alemão, zona norte do Rio), a cena
era de pânico: crianças ensangüentadas, chorando e escondidas debaixo das carteiras, aterrorizadas. Além dos gritos, havia sangue espalhado nas carteiras, paredes e roupas.
Esse foi o resultado de um tiroteio que feriu, na manhã de
ontem, 17 crianças, de acordo
com a Prefeitura do Rio. Seis
delas foram atingidas por tiros,
duas por estilhaços e as outras
ficaram feridas na tentativa desesperada de fugir.
Algumas estavam na sala de
aula. Outras, no pátio. As balas
atingiram o muro, furaram paredes e janelas da escola.
Cinco passaram por cirurgias
e continuavam internadas até a
conclusão desta edição. Uma
menina, de oito anos, levou um
tiro no abdômen. Um menino,
de 11 anos, foi atingido no fêmur do lado esquerdo.
Os tiros foram supostamente
disparados por traficantes que
tentavam atingir PMs que estavam no local. Alguns moradores, porém, acusam a polícia de
ser a responsável pelos tiros.
A jovem Raquel Cardoso, 8,
ferida de raspão no braço direito estava na sala de aula, fazendo a lição, na hora do tiroteio.
"A tia mandou todo mundo
abaixar. Fiquei com muito medo, foram muitos tiros. Chorei
até a hora em que minha mãe
chegou ao hospital", contou.
Aluna da 2ª série, a menina
acredita que o tiro que a feriu
atingiu também sua amiga, Raquel Ferreira, baleada no braço
esquerdo. "Ela estava do meu
lado, aí a bala bateu no braço
dela e depois raspou no meu."
Uma prima de Raquel, que
não quis se identificar, disse ter
ido à escola buscar a sobrinha.
Nunca iria imaginar a cena que
encontrou. "O tiroteio começou na favela, mas não nos
preocupamos com as crianças,
que estavam na escola. Acabaram os tiros e fui buscar minha
sobrinha, com medo de retaliações ou de o comércio fechar.
Quando cheguei, estavam todos encolhidos, gritando. Minha sobrinha não se machucou,
mas estava apavorada, suja do
sangue de uma colega. A menina não quer voltar à escola."
Vice-presidente da Associação de Moradores da Fazenda
das Palmeiras, Galileu Vieira,
46, foi um dos primeiros a socorrer as crianças, levando-as
em uma Kombi ao posto médico mais próximo. "Elas estavam assustadas, sangrando, pedindo a mãe e o pai", afirmou.
Até quando?
"Minha menina está traumatizada. Ri e chora ao mesmo
tempo. A gente não tem voz para reclamar de nada. Até quando isso?", perguntou o auxiliar
de serviços gerais Everaldo
Caetano, pai de Cristiane, 8,
que estava no recreio da escola
na hora do tiroteio.
O comandante do 16º BPM
(Batalhão de Polícia Militar),
José Nepomuceno, informou
que os PMs foram à favela checar a denúncia de que ali haveria caminhões e carros roubados. Os caminhões não foram
encontrados, mas a polícia começou a checar algumas motos
que estavam próximas à escola.
"Os policiais chegaram a revistar a casa de um desses motociclistas e, ao sair, foram atacados por traficantes. Eles não
tiveram nem tempo, nem ângulo para revidar. Uma testemunha confirmou as informações
da PM", disse o delegado
Eduardo Freitas.
O delegado enviou ao local
uma equipe de peritos, mas a
escola estava trancada. "Tentei
várias vezes falar com a diretora da escola, mas ela não respondeu. Agora a perícia vai ter
que ser feita amanhã [hoje]. Só
assim teremos a certeza de onde vieram os tiros", disse.
Hoje serão feitas buscas ao
traficante Tota, chefe do tráfico
local. Segundo o delegado, Tota
tem fama de ser "sanguinário".
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