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INFÂNCIA
Pesquisa realizada em 185 instituições de São Paulo mostra que 67% das crianças e jovens internados têm família
Crise faz abrigos virarem casa substituta
PATRÍCIA PEREIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os abrigos de São Paulo viraram
casa substituta para crianças e
adolescentes cujos pais não têm
condições financeiras de sustentá-los. Dos 4.847 abrigados, 67%
têm família. Do total de crianças
apenas 10% podem ser adotados,
ou seja, já estão desligados legalmente das suas famílias.
A conclusão é de uma pesquisa
feita nos 185 abrigos da cidade
-cinco outros surgiram depois
de encerrado o levantamento, no
primeiro semestre deste ano.
A internação em abrigos é a penúltima medida de proteção prevista no artigo 101 do Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA)
-só vem antes da adoção, a oitava. Como quarta medida, o estatuto prevê a inclusão em programas de auxílio à família, à criança
e ao adolescente.
Dos motivos que levam ao abrigamento em São Paulo, mais de
40% estão ligados à falta de estrutura para cuidar dos filhos. Essa
porcentagem inclui os casos de
abandono e negligência -motivados pela falta de recurso.
Para Reinaldo Cintra Torres de
Carvalho, juiz assessor da Corregedoria Geral de Justiça do Estado
de São Paulo, faltam políticas públicas de apoio às famílias como
alternativa ao abrigamento.
Segundo Carvalho, muitas
crianças deixariam de ir para o
abrigo caso existissem programas
como os de ajuda financeira às famílias e cursos de orientação aos
pais, com freqüência obrigatória
-medida "punitiva" em situações de negligência.
"Os governos municipais, estaduais e federal não nos deixam alternativas senão determinar o
abrigamento", disse o juiz.
A secretária Municipal da Assistência Social, Aldaíza Sposati, disse que a prefeitura já tem programas nessa linha. Ela citou o Proasf
(Programa de Assistência Social
às Famílias), que atende 400 mil
famílias em situação vulnerável,
dando orientação e, em alguns casos, bolsa-auxílio.
Quanto aos cursos, Sposati disse desconhecer a idéia. "Queria
saber qual juiz já aplica essa pena
alternativa", disse.
Para a secretária, existe uma
cultura familiar e institucional
que vê a internação como solução
mais prática para o problema de
famílias de baixa renda sem condições de criar os filhos. Essa cultura é que deve ser mudada, disse.
A pesquisa foi feita pela Secretaria Municipal da Assistência Social de São Paulo e pela Fundação
Orsa, em parceria com o NCA da
PUC-SP (Núcleo de Estudos e
Pesquisas sobre Criança e Adolescente da universidade) e a
AASPTJ-SP (Associação dos Assistentes Sociais e Psicólogos do
Tribunal de Justiça de São Paulo).
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