São Paulo, quinta-feira, 08 de julho de 2004

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Camila, 8, aguarda a mãe há 5 anos

DA REPORTAGEM LOCAL

Camila (nome fictício) tem oito anos e uma rotina parecida com a de outras crianças de sua idade: acorda, arruma a cama, toma café, brinca de boneca e vai à escola. Ela só queria morar em uma casa com menos gente.
Desde que a mãe foi presa, há cinco anos, a menina vive em abrigos. Na Casa Social que fica na Chácara Santo Antônio (zona sul), da Associação Maria Helen Drexel, ela divide o quarto com outras cinco meninas. "Não tenho sossego, é muito barulho", diz.
Seu irmão, 5, mora com ela no mesmo abrigo. A mãe saiu da penitenciária há quatro anos e desde então tenta reestruturar a vida para ter os filhos de volta. Já conseguiu alugar uma casa e receber as crianças no final de semana.
Fernanda (nome fictício), 15, é uma das companheiras de quarto de Camila. Ela mora em abrigos desde os nove meses. Já teve vontade de ser adotada, mas agora sabe que passou da idade.
"Achava que ninguém queria me adotar", diz a menina. Na verdade, quiseram. Mas toda vez em que a chance aparecia, a mãe voltava a ter contato e impedia a destituição do pátrio poder, disse Luzineide Pires dos Santos, a mãe-social responsável pelo abrigo.
Na Casa Social vivem dez crianças e adolescentes. Desses, só duas meninas, ambas com 15 anos, tem condições legais de adoção.
No abrigo Rita Luiza da Cunha, mantido pelo Centro de Habilitação Filosofia e Cultura, mora Luciano (nome fictício), 11, e seus cinco irmãos. Vítima de maus-tratos, ele foi para o abrigo em fevereiro de 2002. Diz não querer sair da instituição.
"Aqui sempre tem gente para brincar", disse o menino, que quer ser jogador de futebol.
O abrigo Rita Luiza da Cunha fica no Jardim Consórcio (zona sul). Lá moram 22 crianças e adolescentes. O mais velho tem 13 anos e a mais nova, oito meses. Nenhuma das crianças está em processo de adoção.
De acordo com a diretora do abrigo, Regina Moutinho, 15 delas têm condições de voltar para a família original.
Quanto mais tempo no abrigo, mais difícil é a volta para casa, disse Elizabete Rosa, coordenadora da área de promoção social da Fundação Orsa.


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