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Medo altera a rotina dos agentes em SP
Funcionários do sistema penitenciário paulista mudam de casa e de local de trabalho ou deixam a família com parentes
Placas dos veículos são cobertas com panos para dificultar que criminosos responsáveis por ataques identifiquem trabalhador
RICARDO GALLO
LUÍSA BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
O agente penitenciário José
Carlos, 33, na profissão há seis,
já decidiu: se morrer, morrerá
sozinho. Desde o início da semana, despachou mulher e filhos para a casa da sogra, em
outro bairro de São Paulo. Cadeiras sempre ficam encostadas nas portas da casa. "Se alguém bater na porta, dá para
ouvir", diz. Com ele, um revólver -ilegal, porque agentes não
podem andar armados. "Antes
ser preso do que morto."
A sensação de pavor de José
Carlos (o nome é fictício) virou
regra para uma categoria que
teme pela vida. Mortes e atentados consecutivos colocaram
em alerta os cerca de 23 mil
agentes penitenciários do Estado, gente que ganha em média
R$ 1.600 mensais, trabalha em
turnos de 12 horas, mora em geral na periferia e, desde o último dia 28, virou o principal alvo dos criminosos. "Tenho 28
anos de sistema, isso nunca
aconteceu", afirma Carlos (nome também fictício), 54, mesma idade de Paulo Araújo, com
quem, inclusive, trabalhou.
Carlos, funcionário de um
CDP (Centro de Detenção Provisória) da zona leste diz estar
em pânico. Para ele, no entanto, existe situação pior. Ontem,
na unidade em que trabalha,
dois agentes começaram na
função. Vieram transferidos da
Baixada Santista. Um deles foi
expulso de casa, com toda a família, por ordem do PCC.
Mudança também foi a solução para Marcelo, que deixou a
família no interior e foi para a
capital. "Saí de casa na segunda.
Tinha um carro estranho rondando a minha casa", afirmou.
Embora tenha medo, ele decidiu não recuar diante dos ataques. "Uma hora eu vou "embora", pela mão de Deus ou do homem. Não vou me esconder."
Marcelo é diretor de um dos
sindicatos dos agentes penitenciários. Segundo ele, em ao menos quatro unidades os funcionários passaram a tapar, com
panos, as placas dos carros. "As
visitas chegam ao presídio, "puxam" a placa do carro e pegam
sua ficha toda", disse. "Somos
uma presa muito fácil."
Em luto, os sindicatos dos
agentes vão suspender as visitas aos presos no final de semana. Segundo as entidades, toda
vez que um agente for atingido
haverá uma paralisação de 24h.
A Secretaria da Administração Penitenciária disse não ter
sido informada da paralisação.
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