São Paulo, sábado, 08 de julho de 2006

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Caos em penitenciárias se espalha em SP

Em Hortolândia, Itirapina e Iaras, presos convivem com superlotação, falta de higiene e de boas condições de saúde

Túnel de 23 metros foi encontrado em Itirapina; ex-detento classifica situação como similar a "campo de concentração"

MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPINAS

Presos cavando túneis, recebendo comida em uma espécie de gaiola e cercados por um fosso de água improvisado para evitar fugas subterrâneas. Telhados, escritórios e enfermaria totalmente destruídos e condições de higiene precárias. Este é o retrato da Penitenciária 2 de Itirapina (213 km de SP) e de pelo menos outros dois presídios da região de Campinas: Penitenciária 2 de Hortolândia e CDP (Centro de Detenção Provisória) de Campinas (95 km de SP). Policiais e agentes penitenciários descobriram anteontem em Itirapina um túnel de 23 metros de comprimento e cinco de profundidade, que serviria para uma fuga em massa. "Os presos fizeram um túnel por baixo de um fosso de água com três metros de profundidade que nós [agentes] cavamos para evitar as fugas", disse o diretor regional do Sifuspesp (Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado), Alcides Carlos da Silva Júnior. Dois dos três pavilhões em Itirapina estão destruídos, e os 1.256 presos estão aglomerados em uma ala com capacidade para cerca de 290 detentos. Em Araraquara, a situação mais grave do Estado, cerca de 1.450 presos estão em um espaço que deveria abrigar 160. Eles recebem a comida pelo teto. Já na Penitenciária 2 de Hortolândia, 940 presos estão aglomerados em um pavilhão desde maio. Recebem marmitas por uma espécie de gaiola, na qual os agentes colocam caixas com alimentos, que só depois são abertas aos detentos. Segundo os agentes, o espaço onde estão 940 presos tem capacidade para apenas 270 pessoas. Os presos defecam e urinam em canos de esgoto. O presídio está sem enfermeiros, e presos doentes ou feridos são encaminhados para a Penitenciária 1 de Hortolândia.

Rebelião
E ontem, na Penitenciária 1 de Mirandópolis (607 km de São Paulo), presos realizaram um tumulto em uma das alas. Parte da cadeia está destruída desde 16 de junho. Segundo um agente penitenciário que não quis se identificar, os 1.162 presos de três alas estão confinados em apenas uma, com capacidade para 400. A falta de vagas nas prisões é problema comum. Em razão disso, a polícia de Ubatuba (litoral de SP) manteve anteontem oito homens presos na carroceria de um caminhão. A cadeia feminina de Ubatuba, que recebe mulheres de todo o litoral norte, começou a abrigar também homens após a interdição, em maio, da cadeia de São Sebastião, destruída durante os ataques do PCC. Anteontem, o delegado responsável pelo local, Fausto Macedo, decidiu colocar parte dos homens na caçamba de um caminhão usado para transporte de detentos, que ficou estacionado no pátio da unidade.
Iaras
Em liberdade há cerca de um mês, Bruno Gutierres Pellizzer, 29, comparou a situação da Penitenciária de Iaras (282 km de São Paulo) -onde cumpriu parte da pena por tráfico- a um "campo de concentração". O ex-detento enviou à Folha uma lista de 47 nomes de presos detidos no local até a sua saída. Eles estariam feridos e sendo tratados precariamente por outros detentos. Segundo Pellizzer, entre os feridos após a invasão do presídio pela tropa de choque da Polícia Militar, em maio, está um preso que ficou cego e outro que havia sido baleado. Uma parente de um preso confirmou a situação, mas disse que houve troca da direção e que já estão ocorrendo melhorias. Segundo o sindicato, os presos, que estavam numa oficina, foram levados para uma ala.


Colaborou FÁBIO AMATO , da Agência Folha, em São José dos Campos


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