São Paulo, domingo, 08 de julho de 2007

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Universitários acham que seus cursos exigem pouco

Resultado está nos questionários socioeconômicos do Enade, que avalia ensino superior

Estudantes, na maioria das áreas, lêem menos de dois livros por ano e não falam inglês; futuros médicos são os que mais horas estudam

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Os universitários brasileiros, na maioria das áreas, lêem menos de dois livros por ano, informam-se principalmente pela televisão, não falam inglês e consideram que o curso poderia ter exigido mais deles.
Esse é o quadro que surge quando são analisadas as respostas nos questionários socioeconômicos dos formandos que participaram do Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes). Com a terceira edição do exame (que substituiu o provão), já é possível comparar o perfil de alunos das 48 carreiras avaliadas.
A insatisfação com o nível de exigência apareceu com destaque em 29 das 48 áreas. Nessas 29 carreiras, mais da metade dos estudantes afirmaram que o curso deveria ter exigido um pouco ou muito mais deles.
Pelos questionários, é possível avaliar também em que cursos os alunos mais se dedicam. Os futuros médicos são, disparados, os que mais estudam além do horário das aulas, com 41% gastando mais de oito horas semanais com a atividade.
A carga de estudos puxada diminui o tempo livre dos alunos para lerem outros livros que não façam parte dos exigidos pelo curso. É da medicina o maior percentual de estudantes que leram apenas dois, um ou nenhum livro no ano (66%).
A cor e a renda média familiar variam entre os cursos. Apenas no de formação de professores a maioria declarou ser negra, parda ou mulata (categorias do questionário). Os cursos em que é menor a presença de autodeclarados negros, pardos e mulatos foram os de engenharia e os da área médica.
Os dados de renda são praticamente iguais aos de cor. Novamente, os cursos voltados para a formação de professores se destacam como os que têm a maior proporção de alunos de menor renda. No outro extremo, foram também as engenharias e os cursos das áreas médicas -acrescidos de computação e arquitetura- que apresentaram menor presença de estudantes mais pobres.
A maior proporção de negros e pobres nos cursos de formação de professor e a pequena presença deles nas áreas médicas e de engenharia têm forte correlação com o grau de dificuldade para entrar nos cursos e acaba tendo reflexo também no rendimento salarial futuro.
Medicina e engenharia, onde a relação candidato/vaga é quase sempre maior do que nas áreas de formação de professores, são também os cursos que trazem mais retorno financeiro.
Segundo uma pesquisa feita pelo Observatório Universitário a partir do Censo 2000 do IBGE, de 20 áreas comparadas, os trabalhadores que se formaram em medicina e engenharia apresentavam maior rendimento médio: R$ 6.706 e R$ 5.731, respectivamente. Com menor rendimento, apareceram os trabalhadores formados em pedagogia (R$ 1.794) e educação física (R$ 2.172).

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