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Universitários acham que seus cursos exigem pouco
Resultado está nos questionários socioeconômicos do Enade, que avalia ensino superior
Estudantes, na maioria das áreas, lêem menos de dois livros por ano e não falam inglês; futuros médicos são os que mais horas estudam
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Os universitários brasileiros,
na maioria das áreas, lêem menos de dois livros por ano, informam-se principalmente pela televisão, não falam inglês e consideram que o curso poderia ter exigido mais deles.
Esse é o quadro que surge
quando são analisadas as respostas nos questionários socioeconômicos dos formandos
que participaram do Enade
(Exame Nacional de Desempenho de Estudantes). Com a terceira edição do exame (que
substituiu o provão), já é possível comparar o perfil de alunos
das 48 carreiras avaliadas.
A insatisfação com o nível de
exigência apareceu com destaque em 29 das 48 áreas. Nessas
29 carreiras, mais da metade
dos estudantes afirmaram que
o curso deveria ter exigido um
pouco ou muito mais deles.
Pelos questionários, é possível avaliar também em que cursos os alunos mais se dedicam.
Os futuros médicos são, disparados, os que mais estudam
além do horário das aulas, com
41% gastando mais de oito horas semanais com a atividade.
A carga de estudos puxada diminui o tempo livre dos alunos
para lerem outros livros que
não façam parte dos exigidos
pelo curso. É da medicina o
maior percentual de estudantes que leram apenas dois, um
ou nenhum livro no ano (66%).
A cor e a renda média familiar variam entre os cursos.
Apenas no de formação de professores a maioria declarou ser
negra, parda ou mulata (categorias do questionário). Os cursos
em que é menor a presença de
autodeclarados negros, pardos
e mulatos foram os de engenharia e os da área médica.
Os dados de renda são praticamente iguais aos de cor. Novamente, os cursos voltados para a formação de professores se destacam como os que têm a
maior proporção de alunos de
menor renda. No outro extremo, foram também as engenharias e os cursos das áreas
médicas -acrescidos de computação e arquitetura- que
apresentaram menor presença
de estudantes mais pobres.
A maior proporção de negros
e pobres nos cursos de formação de professor e a pequena
presença deles nas áreas médicas e de engenharia têm forte
correlação com o grau de dificuldade para entrar nos cursos
e acaba tendo reflexo também
no rendimento salarial futuro.
Medicina e engenharia, onde a
relação candidato/vaga é quase
sempre maior do que nas áreas
de formação de professores,
são também os cursos que trazem mais retorno financeiro.
Segundo uma pesquisa feita
pelo Observatório Universitário a partir do Censo 2000 do
IBGE, de 20 áreas comparadas,
os trabalhadores que se formaram em medicina e engenharia
apresentavam maior rendimento médio: R$ 6.706 e R$
5.731, respectivamente. Com
menor rendimento, apareceram os trabalhadores formados
em pedagogia (R$ 1.794) e educação física (R$ 2.172).
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