|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Formação de docente atrai mais aluno pobre
Fato ajuda na democratização do ensino superior, mas gera discussão entre especialistas sobre qualidade da educação
Segundo ex-secretária municipal de Educação em SP, alunos mal formados têm mais chance de fazer curso menos competitivo
DA SUCURSAL DO RIO
A maior presença de alunos
mais pobres na área de formação de professores mostra que
esses cursos têm desempenhado um papel importante na democratização do ensino superior, mas leva também a uma discussão a respeito da qualidade da educação.
Guiomar Namo de Mello,
que já foi secretária municipal
de Educação em São Paulo e
membro do Conselho Nacional
de Educação, lamenta que os
cursos para professores não
atraiam alunos de maior nível
socioeconômico.
"Professores com pouca base
vão formar mal alunos na educação básica. Esses estudantes
mal formados terão chances de
entrar no ensino superior somente nos cursos menos competitivos, o que cria um círculo
vicioso." Na sua avaliação, para
reverter o quadro, não basta
melhorar salários para que a
profissão volte a atrair, no futuro, profissionais de nível socioeconômico mais elevado.
Ela sugere que as secretarias
de Educação criem sistemas de
certificação de competências e
que os cursos, antes de entrar
nas disciplinas de preparação
para o magistério, façam aulas
de reforço da formação básica.
"Um professor que dará aulas
de primeira à quarta série não
pode estudar só pedagogia e ser
uma analfabeto em matemática. Além disso, ele precisa também ter clareza do que se espera dele. Um bom sistema de
certificação de competências
pode ajudar nesse diagnóstico e
ajudar a corrigir suas falhas."
A presidente da Associação
Nacional de Pós-graduação e
Pesquisa em Educação, Márcia
Aguiar, avalia que o perfil dos
estudantes de cursos que formam professores é um reflexo
da falta de uma política nacional para valorizar o magistério.
Para ela, é preciso aprovar
um piso salarial nacional e um
plano de carreira que sejam
atrativos. A pesquisadora sugere também o aumento de vagas
em licenciaturas em instituições públicas; maior investimento em bolsas estudantis, laboratórios e bibliotecas; e o estabelecimento de uma política
de formação continuada articulada à formação inicial.
O economista Gustavo
Ioschpe, autor do livro "A Ignorância Custa um Mundo", discorda de Aguiar. Ele afirma que
o foco deve estar na reformulação dos currículos nos cursos
de formação de professores, e
não no aumento de salários.
"Há dezenas de estudos que demonstram não haver relação
entre o salário do professor e a
qualidade do ensino."
"Os profissionais tendem a
buscar carreiras com remuneração melhor e mais correlacionada à sua performance. Isso
não ocorre no magistério, onde
os aumentos salariais ocorrem
por senioridade."
Ioschpe diz também que a
queda do perfil socioeconômico do professor é um fenômeno
internacional e está relacionado à emancipação feminina.
"Uma das poucas profissões
que as mulheres de alto nível
socioeconômico podiam seguir
era justamente o magistério, o
que dava a essa carreira profissionais muito competentes.
Atualmente, no entanto, várias
das mulheres desse grupo optam por outras áreas, como direito, medicina e jornalismo."
O economista sugere que o
mais importante é melhorar a
qualidade dos cursos de formação de professores, dando ênfase a práticas em sala de aula, como a aplicação de dever de casa,
boa utilização do livro didático,
avaliações constantes e uso eficiente do tempo em classe.
"Essas práticas, que têm resultados comprovados na melhoria do desempenho do alunado, não só não são ensinadas, como são vistas com grandes
ressalvas por questões pseudo-ideológicas."
(ANTÔNIO GOIS)
Texto Anterior: Universitários acham que seus cursos exigem pouco Próximo Texto: "Quem lê mais busca curso de humanas" Índice
|