São Paulo, domingo, 08 de julho de 2007

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Bosque particular vira sonho de consumo

Construtoras prometem de local para fazer trilha a praia e riacho artificiais; lançamento oferece até árvore privativa

Para arquiteto, áreas verdes deveriam ser abertas ao público para que as pessoas não fiquem "fechadas em seus mundinhos"

Divulgação
Empreendimento da Gafisa em bosque de mata preservada; lançamentos com foco nas áreas verdes aumentam em São Paulo

DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Equivalentes às praias cariocas, oásis verdes de São Paulo -naturais ou artificiais- tornaram-se a nova aposta das construtoras para atrair compradores de alto poder aquisitivo. Os anúncios prometem de bosque particular com trilha até o conceito de "viva entre o campo e a praia", que inclui mar artificial.
O pré-lançamento da Cyrela, por exemplo, no Jardim Marajoara, zona sul, terá sete torres de apartamentos em 66 mil m2, sendo que 23 mil m2 serão de área verde -o parque Ibirapuera tem 1,6 km2. Nessa área, estarão árvores nativas catalogadas, trilhas, riacho e complexo aquático de 2.000 m2, diz Ubirajara Spessoto, diretor de incorporações da construtora.
No parque aquático, com várias piscinas, haverá uma delas com praia artificial. O nível do piso vai descendo e, ao redor, coqueiros e um tipo de pedra que faz as vezes de areia.
"O conceito é inovador. A idéia de morar em uma cidade com praia é o sonho do paulistano. Imagine o que é ter a seus pés a areia da praia e estar dentro de um bosque de 23 mil m2", diz o diretor.

Árvore própria
Do outro lado da cidade, no Tatuapé, zona leste, a mesma construtora lança o que diz ser "o primeiro apartamento com árvore privativa de São Paulo". Quem comprar uma unidade lá terá direito a um parque de 35 mil m2 e uma árvore com o nome da família será plantada. Quando o morador se mudar, a plaquinha será alterada. A construtora não informou o valor dos imóveis.
Já na zona oeste, o mote é "more no último refúgio verde de Perdizes". A Exto Engenharia comprou a casa de uma família que mantinha um bosque de 800 m2. A área, com árvores de mais de 80 anos, será preservada. Trilhas e piscinas com prainha também são atrativos. Lá, cada unidade deverá custar cerca de R$ 1 milhão (com área média de 230 m2).
Também na zona oeste, a Tecnisa tem um projeto na Pompéia. Com um terreno de 250 mil m2, ela pretender fazer, até 2014, um parque de 150 mil m2 (quase duas vezes o tamanho do parque da Luz, no centro) aberto ao público. Em volta dele, lançará cerca de 20 torres, também com áreas verdes.
"Vamos plantar tudo. Será uma mancha verde que irá valorizar a região", diz Fábio Villas-Bôas, diretor técnico da construtora. "Hoje, é uma demanda do mercado ter parque, bosque. O cliente quer tranqüilidade e contato com a natureza." Spessoto, da Cyrela, concorda. "A tendência é lançar empreendimentos que consigam trazer ao morador sensações que dificilmente ele teria no condomínio. Hoje, ele deseja qualidade de vida, privacidade, segurança e o privilégio de ter uma área verde em casa."

Diferencial
A secretária-executiva Elisa Tiagor, 54, quis ter contato maior com a natureza. Às vésperas de se aposentar, comprou um imóvel na Mooca, zona leste, com 15 mil m2 de bosques e parques. "A área verde foi um diferencial importante. Escolhi o empreendimento porque, quando tiver tempo livre, quero fazer caminhadas, aproveitar o verde."
Fábio Rossi, da Itaplan, acrescenta outro atrativo: "O paulistano quer ter uma bela vista da janela e, aqui, o verde é a atração. Ninguém quer dar de cara com o prédio vizinho".
A Itaplan lançou, em abril, um empreendimento com duas torres na Chácara Flora, zona sul, que tem 55 mil m2 de bosques e jardins. Os apartamentos, com tamanho médio de 370 m2, custam R$ 1,5 milhão. "Ter área verde agrega valor ao imóvel e esse passou a ser um caminho para o mercado imobiliário. Há cinco anos, não havia tanta demanda."
A Gafisa foi uma das primeiras construtoras a lançar um condomínio onde a atração principal era o verde. Em 98, duas torres foram construídas em um terreno de 233 mil m2. Agora são dez e estão previstas mais cinco. Lá, há bosque com mata preservada em 58 mil m2, trilhas, cascatas e lago natural.

Marketing
Professor de arquitetura da paisagem da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, Paulo Renato Mesquita Pellegrino diz que muitas construtoras usam o verde como marketing. "Às vezes, soa meio banalizado ouvir que um empreendimento tem parque privativo, mas, de qualquer forma, é um atrativo mais saudável."
Ele lembra que é preciso observar, no caso de parques artificiais, se foi respeitada a condição do terreno para evitar problemas de drenagem. "E também acho que as áreas verdes deveriam ser abertas ao público. Senão, daqui a alguns anos, as pessoas só freqüentarão os próprios parques e ficarão fechadas em seus mundinhos."


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