São Paulo, domingo, 08 de julho de 2007

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36% usam água contaminada em Natal

Principais motivos são falta de saneamento e solo formado por dunas, que são muito permeáveis à infiltração de esgoto

Agente de contaminação é o nitrato, que é resultante da decomposição de matéria orgânica e pode causar câncer de estômago

THIAGO GUIMARÃES
COORDENADOR-ASSISTENTE DA AGÊNCIA FOLHA

Um dos principais destinos turísticos do país, Natal (RN) distribui água contaminada a pelo menos 36% da população -ou 280.835 pessoas.
O contaminante é o nitrato, que não desaparece com a filtragem ou com a fervura da água. Sua origem é a decomposição de matéria orgânica -como excrementos humanos. A ingestão de nitrato é fator de risco para câncer de estômago.
A contaminação em Natal tem duas causas principais. Uma é a falta de saneamento: apenas 33% da cidade tem rede de esgoto -na Grande São Paulo, por exemplo, esse índice é de 82%. O resto usa fossas e valas.
Outra causa é a facilidade de infiltração do esgoto nas águas subterrâneas usadas para abastecimento. Isso ocorre porque a camada abaixo das moradias é formada por dunas, que são altamente permeáveis.
Atualmente, a única informação fornecida à população sobre a quantidade de nitrato na água que consome é um quadro de 2,25 cm2 de extensão na conta mensal de água da Caern (estatal de saneamento do Estado), que fica perdido em meio aos números publicados do documento.
Essa situação, contudo, pode mudar em breve. Em 25 de maio, a Justiça do Estado determinou que, em casos de contaminação, a Caern insira a expressão "fora dos padrões de potabilidade" na conta de água, além de avisos sobre doenças associadas ao nitrato.
A Justiça concedeu liminar (decisão provisória) em ação movida contra a Caern em fevereiro pelo Ministério Público do Estado. Entre as outras seis determinações, estão o remanejamento de R$ 14,5 milhões para obras emergenciais no sistema de abastecimento e a eliminação do nitrato na água em nove meses.
"O indeferimento da antecipação de tutela [liminar] estaria pondo em risco a saúde da população de quase todo o município", disse a juíza Vanessa Nogueira em sua decisão.

Bairros
A ação da Promotoria aponta que moradores de 14 bairros de Natal recebem água com contaminação acima do limite de 10 miligramas de nitrato por litro, definido pelo Ministério da Saúde. Em sua maioria, são áreas populosas -como Felipe Camarão (51.279 habitantes) e Pajuçara (53.933)- e mais pobres. Bairros nobres, como Ponta Negra, não apresentaram contaminação.
Grande parte da captação de água para abastecimento em Natal é feita em mananciais subterrâneos (poços) -28% na zona norte e 72% nas zonas sul, leste e oeste. Dos 134 poços da Caern, 69 (51%) estão contaminados por nitrato, dos quais 34 foram desativados. A vazão dos poços desativados é suficiente para abastecer uma cidade de 200 mil habitantes.
O número de pessoas atingidas pela contaminação pode ser ainda maior porque o poder público não tem dados confiáveis sobre quantos poços clandestinos há na cidade.
"A situação está se agravando. Se tivéssemos rede de esgoto abrangente, evitaríamos esse problema", disse o engenheiro Manoel Lucas Filho, consultor da Arsban (Agência Reguladora de Serviços de Saneamento Básico do Município de Natal) e professor da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), instituição que teve poços de água interditados pela contaminação por nitrato.


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