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"PMs são assassinos despreparados", diz pai de João Roberto
Paulo Soares questiona ação de policiais, que afirmaram ter
trocado tiros com assaltantes que estavam em outro carro
"Cadê o outro carro? Tanto
tiro não pegou no outro
carro? Mentira, não têm
hombridade para dizer
que erraram", afirma pai
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
De folga aos domingos, o taxista Paulo Roberto Barbosa
Soares, 45, decidiu trabalhar
anteontem para tentar o dinheiro extra com que pretendia
pagar a festa do primogênito
João Roberto, que no próximo
dia 29 completaria quatro anos.
Pouco antes das 19h30, ele viu o
carro onde seguiam os dois policiais militares acusados de
matar o menino.
"Eles estavam indo de encontro para matar meu filho. Para
minha família é que eles estavam indo de encontro", repetia
ele, em meio ao choro, em desabafo de manhã em frente ao
hospital Copa D'Or, onde acabara de ser informado da morte
cerebral do filho.
Ele contou que passava pela
rua Conde de Bonfim, uma das
principais da Tijuca, "quando
passou (...) uma patrulhinha".
"Os caras estavam com a
porta aberta, o fuzil para o lado
de fora. Pareciam que estavam
num filme (...), queriam se
mostrar. A passageira ainda falou: "Moço, está acontecendo
alguma coisa". Falei: "Minha
senhora, esta cidade que a
gente vive...Estou doido para
sair daqui"."
Minutos depois, ele recebeu
um telefonema desesperado da
mulher Alessandra, advogada e
funcionária da Justiça. No local, ferida, Alessandra contou
que vira um carro preto passar
veloz e ouvira a sirene do carro
policial, em perseguição. Ao encostar para dar passagem, seu
carro virou alvo de disparos por
parte dos PMs, disse ela, conforme o marido.
"Eles não perseguiram os
bandidos. Fecharam o carro
da minha família e metralharam o carro com uma mulher
e duas crianças dentro. Uma
criança de nove meses e outra
criança de quatro [anos]. Sendo
que essa criança de quatro tomou um tiro na cabeça e está
morta lá em cima, não tem mais
chance, gente."
Despreparados
Aos gritos, Soares chamou os
policiais militares de "assassinos despreparados".
"Eles metralharam o carro da
minha mulher, metralharam
na maior covardia, não deram
chance de defesa. Ela jogou a
bolsa da criança pela janela, para chamar a atenção que tinha
criança dentro do carro, e eles
continuaram. Não tiveram piedade. Que polícia é essa?"
Amparado por parentes
e colegas da cooperativa de
táxis Grajaú Service, onde trabalha há oito anos, lamentou
que ninguém do governo Sérgio
Cabral (PMDB) o procurou para "dar uma desculpa pela
crueldade que fizeram com minha família."
"Meu filho está lá em cima
com morte cerebral, não tem
mais escapatória...! E eles vêm
dizer que houve troca de tiros.
Cadê o outro carro? Tanto tiro
não pegou no outro carro?
Mentira, não têm hombridade
para dizer que erraram."
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