São Paulo, terça-feira, 08 de julho de 2008

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CARLOS JORGE REINERS (1933-2008)

Quando um lojista vira um guerrilheiro

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Carlos Reiners passou a noite de 29 de março de 1964 "inteirinha ao pé do rádio" ouvindo a evolução do golpe militar. Até que fechou a loja de louças em Cuiabá, organizou os ideais políticos e se juntou aos colegas comunistas para pegar em armas. "Era um comunista socialista convicto. E um sonhador."
"Fundamentava o ideal em leitura", diz o irmão do advogado que "era tímido demais para advogar". Tinha uma loja e dividia a rotina entre os clientes e os livros socialistas dos tempos de faculdade.
Nascido em Santo Antônio de Leverger (MT), crescido na vida pacata da fazenda, foi "nos idos dos anos 60 que começou contatos" com política, "sempre nos bastidores".
Mas naquele março os ideais se assomaram e a tensa atmosfera radiofônica fez com que catassem "um revolvinho 32 aqui, uma espingardinha ali" e fossem ao interior formar frentes de resistência. Dias depois ouviam que João Goulart deixava o país. Decidiram voltar a Cuiabá. Foram presos.
Após cem dias preso no 16º Batalhão de Caçadores, foi liberado. Virou professor e foi diretor de escola. "Era idealista" com mulher, cinco filhos, nove netos e três bisnetos. Assim passou os anos, entre os pintados pescados no rio Cuiabá que distribuía para os pobres de Mimoso.
O ano começou bem, com o pedido de indenização como anistiado político deferido. Mas não chegou a receber o pagamento. Morreu segunda passada, de câncer, aos 75.

obituario@folhasp.com.br


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