|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS JORGE REINERS (1933-2008)
Quando um lojista vira um guerrilheiro
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Carlos Reiners passou a
noite de 29 de março de 1964
"inteirinha ao pé do rádio"
ouvindo a evolução do golpe
militar. Até que fechou a loja
de louças em Cuiabá, organizou os ideais políticos e se
juntou aos colegas comunistas para pegar em armas.
"Era um comunista socialista convicto. E um sonhador."
"Fundamentava o ideal em
leitura", diz o irmão do advogado que "era tímido demais
para advogar". Tinha uma loja e dividia a rotina entre os
clientes e os livros socialistas
dos tempos de faculdade.
Nascido em Santo Antônio
de Leverger (MT), crescido
na vida pacata da fazenda, foi
"nos idos dos anos 60 que começou contatos" com política, "sempre nos bastidores".
Mas naquele março os
ideais se assomaram e a tensa atmosfera radiofônica fez
com que catassem "um revolvinho 32 aqui, uma espingardinha ali" e fossem ao interior formar frentes de resistência. Dias depois ouviam que João Goulart deixava o país. Decidiram voltar
a Cuiabá. Foram presos.
Após cem dias preso no 16º
Batalhão de Caçadores, foi liberado. Virou professor e foi
diretor de escola. "Era idealista" com mulher, cinco filhos, nove netos e três bisnetos. Assim passou os anos,
entre os pintados pescados
no rio Cuiabá que distribuía
para os pobres de Mimoso.
O ano começou bem, com
o pedido de indenização como anistiado político deferido. Mas não chegou a receber
o pagamento. Morreu segunda passada, de câncer, aos 75.
obituario@folhasp.com.br
Texto Anterior: Mortes Próximo Texto: Passageiros são retidos em avião por 6 h Índice
|