|
Próximo Texto | Índice
Escola usa professor para promover produto
Redes COC e Dom Bosco oferecem seus docentes para ações de marketing que incluem distribuição de brindes na volta às aulas
Escolas dizem que não cobram nada e que a ideia é agradar aos alunos e
criar um envolvimento maior com as suas ações
DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL
As redes COC e Dom Bosco,
que formam um dos maiores
grupos educacionais do país,
transformaram seus 4.800 professores em garotos-propaganda de empresas.
As escolas encaminharam ao
mercado publicitário uma proposta de parceria na qual dizem
que os professores -"promotores de sua marca"- podem
atuar em ações de merchandising nas portas de vestibulares
nas quais distribuem brindes
patrocinados (como chocolates, sucos e chicletes) e vestem
camisetas com as marcas.
Além disso, em sala de aula,
os docentes podem dar produtos com cartões de boas-vindas
na volta às aulas ou distribuir
atividades extracurriculares no
ensino infantil com o logotipo
do patrocinador.
Recentemente, por exemplo,
alunos do COC ganharam biscoitos recheados que acompanhavam um jogo de formar palavras trazendo impressa a
marca da guloseima. Em outras
ocasiões, fabricantes de chocolate distribuíram amostras com
o objetivo de "dar energia" aos
estudantes.
O SEB (Sistema Educacional
Brasileiro), que reúne as duas
redes e soma 27 unidades próprias e mais de mil associadas
pelo país - afirma que não cobra nada do patrocinador e que
é extremamente seletivo com
os produtos parceiros.
Afirma que a ideia do projeto
é agradar aos estudantes com a
distribuição dos produtos,
criando um envolvimento
maior com ações da escola.
"É um merchandising sutil",
diz Vagner Aguilar, diretor de
marketing do grupo SEB, citando as ações que ocorrem nos
vestibulares. "O aluno se sente
amparado: "Que legal que a escola e essas empresas pensaram na minha prova"."
Para ser aprovada, conta
Aguilar, a ação deve ter "contexto pedagógico" ou ser feita
em ocasiões especiais, como
"Dia dos Pais", início da primavera e a "volta às aulas".
O diretor de marketing da rede, que tem cerca de 400 mil
alunos, diz que esse tipo de
ação "funciona muito" para a
marca e é boa para a escola,
"pois coloca o aluno em contato
com as novidades do mercado".
Ele diz, por exemplo, que em
uma ação de Dia das Mães exigiu da "empresa parceira" (uma
rede de cosméticos) a distribuição de miniaturas de um perfume que não estava ainda nas lojas. Para acompanhar a novidade, as crianças criariam um cartão comemorativo à data.
Mãe aprova
Vitor Paro, professor da Faculdade de Educação da USP,
critica as ações do gênero e, em
especial, o envolvimento dos
professores.
"Isso só mostra como a profissão está degradada. É um absurdo. O que o professor fala
em sala de aula é tido como verdade pelos alunos", afirma.
A fisioterapeuta Marcia Fernandes, 46, mãe de três alunos
numa escola COC de Ribeirão
Preto, discorda do educador e
elogia a iniciativa.
"Quem não gosta de ganhar
brinde? Outro dia, meus filhos
ganharam uma bolachinha na
escola que eu nunca tinha comprado. Gostei e fui ao supermercado para comprar mais."
O diretor de marketing do
SEB afirma que as ações do grupo não são publicidade e que os
professores da rede não recebem remuneração extra por
participar delas.
"O business da escola é formar cidadãos. Não dá para vender produtos dentro da escola.
Não distribuímos cupons de
desconto, por exemplo", afirma
Aguilar.
Próximo Texto: Gilberto Dimenstein: Cidade digital Índice
|