São Paulo, quarta-feira, 08 de julho de 2009

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GILBERTO DIMENSTEIN

Cidade digital


Aos 39 anos, Ricardo deixou a empresa de consultoria para se dedicar a uma experiência urbana com recursos digitais


RICARDO JOSEPH cursou engenharia de produção na USP e um MBA em Yale, nos EUA, uma das melhores universidades do mundo. Entre os dois cursos, passou um tempo no programa de administração pública da Fundação Getulio Vargas, mas depois desistiu.
Aconteceu o que era previsível para alguém com esse currículo. Não teve maiores problemas no mercado de trabalho e, nos últimos anos, atuava como consultor em gestão. Casado, estava com a vida razoavelmente sólida. Até entrar na crise dos 40 e resolver redescobrir a cidade de São Paulo. "Senti uma vontade irresistível de fazer uma coisa nova." Aos 39 anos, Ricardo deixou sua empresa de consultoria e seus clientes para se dedicar a uma experiência urbana, usando os recursos digitais -um site na internet que dá às pessoas mais um recurso para mudar São Paulo, a partir de sua rua ou de seu bairro.

 


Quando estava em Yale, Ricardo se interessou pelas experiências comunitárias americanas. Viu como as pessoas se organizam pelas mais diversas causas. "Uma cultura bem diferente da brasileira. Sempre esperamos a solução de cima." Essas observações se mesclaram ao curso de gestão, no qual foram mostrados casos de articulação comunitária em parceria com o poder público.
Muitas dessas articulações ganharam novas possibilidades com a internet. Inventaram-se portais que ajudavam a acompanhar tudo o que ocorria em seu bairro, com os conteúdos alimentados pelos moradores -reclamações de um buraco de rua poderiam ir direto para o portal com um celular.
 


Animado com aquela movimentação comunitária, Ricardo voltou ao Brasil e teve sua primeira lição. Tentou criar, no seu bairro, uma associação. Notou como as pessoas não tinham o hábito de participar. Pensou então em criar um grupo para reunir todas as associações de bairro. Mais uma vez, não deu certo.
Nada disso implicava qualquer problema financeiro, pois, nessa época, ainda estava tocando sua empresa, especializada em consultoria de gestão. Ao fazer um balanço de sua vida, próximo dos 40 anos, arrependeu-se de ter desistido do curso de administração pública da FGV. "Vi que talvez estivesse ali meu grande prazer."
 


Arrumou dois amigos investidores para que se criasse o site Urbanias (www.urbanias.com.br), no qual cada pessoa reclama dos problemas da cidade e as demandas são enviadas às respectivas repartições públicas. Em essência, uma mistura de governo eletrônico com jornalismo comunitário. "As novas tecnologias vão remodelar o jeito como se tomam as decisões públicas." Disso quase ninguém duvida.
A dúvida é saber como experiências digitais são sustentáveis. "Mas nesse tipo de decisão está um dos prazeres de experimentar." É o poder criativo, para alguns, da crise dos 40.

gdimen@uol.com.br


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