|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Aposentada é mandada para o necrotério ainda viva
CRISTINA TARDÁGUILA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
A aposentada Maria José das
Neves, 72, internada no Hospital Geral de Nova Iguaçu (RJ)
desde o dia 31 devido a seqüelas
de um derrame, diabetes e infecção generalizada, pode ter
morrido na noite do último domingo em decorrência de negligência médica.
Dada como morta por volta
das 11h30 do dia 6, ela foi levada
ao necrotério do hospital envolvida em um saco branco
com zíper e lá ficou até a chegada dos familiares e da equipe da
funerária, que constataram
com horror que ela ainda se esforçava para respirar.
"O hospital nos telefonou por
volta das 12h de domingo, dizendo que ela tinha morrido,
mas, quando chegamos com as
roupas do enterro e com o pessoal da funerária, vimos que o
saco se movia por causa da respiração. Quando abrimos o zíper, vimos que ela estava de
olhos abertos!", contou o vigilante Marcelo dos Santos, 28, o
parente mais próximo de Maria
José, que era prima da avó dele.
Segundo Santos, houve uma
correria imediata no hospital, e
a idosa foi levada pelo médico
Luciano Barbosa para a sala de
reanimação, onde voltou a ser
entubada.
"O médico explicou que tinha dado uma injeção de adrenalina nela e esperado cerca de
30 minutos por uma reação.
Tendo em vista que nada tinha
acontecido, ele tinha declarado
o falecimento dela", afirmou o
vigilante.
Queixa
Na opinião dos parentes de
Maria José, que receberam a
notícia da morte definitiva da
idosa por volta das 21h, o fato
de ela ter ficado embalada viva
e com os pés e mãos amarrados
por cerca de quatro horas certamente contribuiu para sua
real morte. Os familiares apresentaram queixa e prestaram
depoimento no 58ª DP.
"No primeiro óbito, a causa
[que consta] é morte natural.
No segundo, não sabemos ainda. O corpo foi para autópsia no
Instituto Médico Legal (IML),
e acho que o hospital está tirando o corpo fora. Não fala nada
com a gente", reclamou Santos.
De acordo com a assessoria
de imprensa do hospital, já foram instaladas uma comissão
de sindicância interna para
acompanhar a parte administrativa do caso e uma comissão
de ética médica para descobrir
se houve falha da equipe.
"Impressão inicial"
O diretora do Cremerj, Pablo
Vázquez, afirma acreditar que
em uma semana será possível
ter "uma impressão inicial" sobre o que realmente houve. Se
os médicos envolvidos forem
considerados culpados por negligência, sofrerão uma punição que pode ir de advertência à
cassação do registro.
Por causa da distância do parentesco entre Santos e Neves,
o corpo dela ficará no IML até
amanhã, quando a família reiniciará os trâmites necessários
para o enterro.
Texto Anterior: Lei mais rigorosa Próximo Texto: Mortes Índice
|